Nasa pode ter ignorado presença de fosfina em Vênus em 1978

Indícios da substância podem ter passados despercebidos aos cientistas da época; nova pesquisa mostra produtos semelhantes coletados na atmosfera no planeta
Leticia Riente01/10/2020 15h17, atualizada em 01/10/2020 16h35

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A descoberta de fosfina em Vênus, anunciada pela Nasa no mês passado, causou grande movimentação no meio científico, afinal, a substância pode indicar vida no planeta. Mas é possível que este componente tenha sido identificado na década de 70 e passado despercebido pela agência espacial. Documentos indicam que a sonda Pioneer 13 apresentou indícios de fosfina em Vênus há 42 anos.

O novo achado foi promovido pelo bioquímico Rakesh Magul e sua equipe, que vasculharam documentos da Nasa assim que a detecção de fosfina foi divulgada pela mídia mundial. “Portanto, para nós, foi um próximo passo natural dar outra olhada nos dados. Como tal, após consultar meus co-autores, identificamos os artigos científicos originais e imediatamente começamos a procurar por compostos de fósforo”, afirmou Magul.

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Cientistas encontraram fosfina na atmosfera de Vênus, mas substância pode ter sido identificada por sonda há 42 anos. Créditos: AunMan/Shutterstock

Assim, o grupo encontrou pistas de fosfina em dados coletados pelo Large Probe Neutral Mass Spectrometer (LNMS), um dos vários instrumentos que desceram na atmosfera de Vênus como parte da missão Pioneer 13 em 1978. O equipamento coletou amostras da atmosfera e executou estes materiais por meio de espectrometria de massa. Isso significa que as substâncias foram analisadas por um laboratório padrão utilizado para identificar produtos químicos desconhecidos.

Na primeira descrição dos resultados apresentados pelo LNMS, os cientistas envolvidos não discutiram os compostos à base de fósforo e focaram apenas outros componentes encontrados, e talvez tenha sido aqui que a fosfina foi deixada de lado. “Acredito que as evidências de [traços de substâncias químicas que poderiam ser assinaturas de vida] nos dados legados foram descartadas porque se pensava que não poderiam existir na atmosfera”, disse Mogul.

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Altas temperaturas e outras condições de ambiente podem ter feito pesquisadores ignorar produtos químicos de fósforo em 1978. Créditos: Nasa/Divulgação

Já na releitura feita pela equipe de Rakesh Magul, foram analisados os dados do LNMS das nuvens inferiores e médias de Vênus, consideradas zonas potencialmente habitáveis no planeta. Os sinais encontrados se assemelhavam muito à fosfina, segundo o relato dos pesquisadores. No estudo, os cientistas também encontraram fortes evidências de átomos de fósforo na atmosfera.

De qualquer forma, vale destacar que a LNMS não foi projetada para buscar por compostos semelhantes à fosfina, por isso teria dificuldades de distinguir gases e moléculas de massas similares. Mas a própria Pioneer 13 apresentou sinais de alguma molécula presente no gás que possui a mesma massa da fosfina. Esta caraterística foi a mesma relata pelos cientistas que escreveram o artigo de descoberta do componente no mês passado.

Outros produtos químicos

Além da fosfina, o bioquímico e sua equipe comprovaram indícios de outros produtos químicos que, pela lógica, não deveriam existir naturalmente nas nuvens de Vênus. Os cientistas encontraram substâncias como cloro, oxigênio e peróxido de hidrogênio. “Acreditamos que isso seja uma indicação de produtos químicos ainda não descobertos”, destacou Mogul. “E / ou produtos químicos potencialmente favoráveis para a vida”, acrescentou.

A partir de agora, explorações adicionais são necessárias para sustentar a teoria. “Precisamos de uma abordagem mais sustentada para a exploração como a de Marte“, finalizou Mogul.

O fato é que a descoberta não difere do que já foi publicado pela Nasa nos últimos dias, mas é uma importante comprovação para tornar a presença de fosfina em Vênus ainda mais assertiva.

Via: Science Alert

Colaboração para o Olhar Digital

Leticia Riente é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital