Um dos recursos mais comentados do Apple Watch foi seu medidor de oxigênio no sangue. Não tanto pelo lançamento da Apple, até porque esse é uma das ferramentas principais do Series 6, mas sim pelo fato de essa medição ser possível desde a primeira geração do hardware do smartwatch e a Apple ter esperado vários anos para lançá-la (e com um novo hardware).
Não se sabe ao certo os motivos disso. Talvez a empresa apenas não estivesse satisfeita com seus sensores e tenha melhorado sua precisão no Series 6. Pode ser o caso, apesar de o oxímetro da Apple ainda não ter recebido aprovação do Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador que funciona como a Anvisa nos Estados Unidos. Porém, há quem diga que nem esse longo período serviu para realmente calibrar o equipamento.
É o caso do jornalista Geoffrey Fowler, do Washington Post, que decidiu comparar o medidor do Apple Watch Series 6 com um oxímetro comum, utilizado no dedo, e o novo smartwatch da Fitbit, o Sense. O processo de medição é igual: os vasos sanguíneos são iluminados e a quantidade de luz refletida indica a cor do sangue. Com isso, o equipamento fornece a informação do volume de oxigênio no sangue em uma medida chamada SpO2. Em pessoas saudáveis, esse valor varia entre 95% e 100%.
Porém, ambos os relógios marcaram valores muito diferentes, com variações muito grandes. Fowler acredita que empresas de tecnologia comercializam recursos de saúde sem que seus aparelhos possam fazê-lo de forma confiável. “Essa é uma tendência perigosa e põe em risco o efeito positivo potencial que a coleta de dados corporais pode ter sobre nossa saúde”, escreveu ele em seu artigo.
O Apple Watch Series 6 conta com luzes na parte inferior que iluminam os vasos sanguíneos do pulso e transmitem a informação a um aplicativo no celular, que pode ser checado a qualquer momento. Você precisa ficar imóvel por 15 segundos para o relógio fazer a leitura. O oxímetro comum faz essa medição na ponta do dedo.
“A primeira vez que experimentei isso no Apple Watch 6, ele disse que meu nível de oxigênio estava em 88% – chocantemente baixo, visto que estou com boa saúde e não estava ofegando”, contou Fowler. “Cinco minutos depois, testei novamente e ele disse que meu SpO2 estava em 95%. Continuei tentando e obtendo leituras diferentes – e, frequentemente, uma mensagem de erro de ‘medição malsucedida'”.
Alguns dos resultados obtidos nas medições de Fowler. Imagem: Geoffrey Fowler/Washington Post
Fowler então contou sobre seu problema para a Apple, que enviou um novo relógio. Em sua primeira medição, o nível de SpO2 era de 100%. Ao longo de vários dias, ele seguiu testando e comparando os resultados com o oxímetro de dedo. Na maioria das vezes, a divergência foi de dois ou três pontos percentuais, mas alguns resultados foram iguais – e outros tinham até 7% de diferença.
Os resultados mudavam tanto que Fowler chegou a questionar se o problema era ele. O único jeito de descobrir isso seria selecionando diversas pessoas para fazerem o mesmo teste. Porém, segundo ele, há incalculáveis variações a se considerar, como gordura, pele e vasos sanguíneos.
Os resultados do Fitbit Sense foram menos erráticos que os da Apple, mantendo-se entre 95% e 97%, mas o Apple Watch fornece muito mais informações que seu concorrente. O Sense não faz verificações pontuais, medindo apenas enquanto você dorme e fornecendo uma média noturna.
Comparação entre medição do Apple Watch e de um oxímetro comum. Imagem: Geoffrey Fowler/Washington Post
A Apple não comentou sobre a taxa de erro do sensor, limitando-se a dizer que tudo “foi rigorosamente testado em um amplo espectro de usuários e em todos os tons de pele”. Vale ressaltar que Fowler testou diferentes tamanhos de pulseira loop solo e obteve melhores leituras quando o relógio estava mais ajustado no pulso do que com pulseiras mais largas. Mensagens de erro também apareceram nesse caso, mas em menor quantidade.
De acordo com a Apple, o app Oxigênio no Sangue “não se destina ao uso médico, incluindo autodiagnóstico ou consulta médica, e foi desenvolvido apenas para fins de bem-estar e boa forma”.
Um dos pontos mais elogiados do ECG do Apple Watch é justamente sua precisão, então esses resultados são um pouco surpreendentes. Talvez o melhor seja esperar novos testes para ter certeza.
Via: Washington Post