Após a mobilização do grupo de direitos digitais Fight for the Future, 40 dos maiores festivais do mundo – incluindo Coachella, Bonnaroo e SXSW – afirmaram que não vão usar reconhecimento facial durante seus shows. Na petição Ban Facial Recognition at Festivals, artistas e fãs colocam pressão nas companhias organizadoras dos eventos e falam em boicote.
Popular e polêmico, o reconhecimento facial está cada vez mais difundido e integrado na sociedade. Ao passo que a tecnologia possibilita desbloquear seu smartphone, utilizar como identidade e até mesmo realizar pagamentos em lojas, ela está sendo banida de alguns estados como São Francisco, Oakland e Somerville nos Estados Unidos e também em softwares, como no Android, que baniu o sistema Trusted Face. Os que são contra acreditam que o sistema age como um método de vigilância perigoso, que fere a privacidade dos indivíduos, apto a cometer erros graves e falsas prisões.
Diante deste cenário, músicos como Tom Morello (Race Against the Machine), Nahko Bear (Nahko and medicine for the Peope), Speedy Ortiz e Thievery Corporation se pronunciaram mês passado contra o uso de reconhecimento facial em shows e apresentações. As reinvindicações tomaram forma na campanha organizada pelo Fight for the Future que englobou artistas, fans e ativistas críticos ao uso da tecnologia. Todos prometem boicotes contra eventos que utilizem o reconhecimento facial.
No website da petição são citados inúmeros festivais mundiais, ressaltando os que vão banir o sistema e quais ainda podem permitir, agora ou no futuro, a integração desta tecnologia aos concertos. Por enquanto, 40 festivais assinaram contra o uso, enquanto cinco se mantiveram a favor: Boston Calling (Clash Line Productions), Burning Man (Independent), Outside Lands (Another Planet Entertainment), I Heart Radio Music Festival (IHeart Media) e Life is Beautiful (Another Planet Entertainment).
Em um artigo publicado no Buzzfeed News, os organizadores comemoraram a grande adesão das organizadoras de festivais à petição: “Essa vitória é o primeiro grande golpe na disseminação do reconhecimento facial comercial nos Estados Unidos, e seu significado não pode ser exagerado”, escreveram.
Enquanto isso, alguns festivais e artistas individuais continuam utilizando a tecnologia ou não se pronunciando sobre o caso. Ano passado, durante um show da cantora Taylor Swift, a polícia de Boston utilizou o reconhecimento facial para monitorar o público e prender stalkers. Na China, um homem foi preso durante um show ao ser acusado de crimes financeiros.
A imprecisão do sistema é uma das maiores críticas ao redor do mundo por provar, inúmeras vezes, que possui um viés racial e de gênero. Até mesmo a Axon, uma das maiores fornecedoras de câmeras policiais e softwares, declarou que não vai utilizar reconhecimento facial em seus produtos até que o sistema seja mais preciso.
Brasil
Na sua última edição, em setembro deste ano, o Rock in Rio adotou o sistema de reconhecimento facial nas saídas da estação de ônibus, em pontos de controle e na entrada do evento. Os dados gerados pelo festival foram compartilhados pela Polícia Civil e Militar, que buscavam reconhecer suspeitos. O festival não se pronunciou sobre a adoção da tecnologia na próxima edição, que deve acontecer em Portugal, ano que vem.
Ainda no Rio de janeiro, no carnaval deste ano, um sistema de 28 câmeras com reconhecimento facial foi instalado nas ruas de Copacabana. A tecnologia identificou quatro criminosos, mas errou na condenação de uma mulher que foi identificada e presa por engano sob suspeita de homicídio e ocultação de cadáver.
Via: Engadget