Molécula em veneno de abelha destrói célula cancerígena em 60 minutos

Estudo sugere que melitina pode atuar até em casos mais graves da doença, principalmente no câncer de mama; no entanto, o caminho para sua utilização efetiva em tratamentos ainda é longo
Leticia Riente03/09/2020 12h14, atualizada em 03/09/2020 14h23

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Cientistas da Austrália descobriram no veneno de abelhas melíferas uma substância que pode ajudar no combate ao câncer, principalmente o de mama. O estudo, publicado pela Nature Precision Oncology, usou camundongos para mostrar a eficácia do teste, mesmo em casos da doença mais agressivos, como o triplo-negativo (TNBC).

A melitina compõe pelo menos metade do veneno expelido pelo inseto e é produzida não apenas no ferrão, mas também em outros tecidos. A molécula é a responsável por tornar a picada de abelha tão dolorosa em humanos.

Os pesquisadores usaram o veneno em células cancerosas desenvolvidas em laboratório e também em células saudáveis. Aqui, vale destacar que a melitina foi colocada em conjunto com outras drogas quimioterápicas. A substância utilizada no experimento veio de abelhas da Irlanda, Inglaterra e Austrália.

Reprodução

Estudiosos utilizaram para a pesquisa uma molécula encontrada no veneno de abelhas. Créditos: Irin-k/Shutterstock 

Durante o estudo, quando a melitina foi bloqueada com um anticorpo, as células responsáveis pelo câncer sobreviveram. Tal comportamento indicou que a substância de fato era o componente do veneno que havia gerado bons resultados nos testes realizados anteriormente.

Diante do quadro, também foi possível perceber que o veneno de abelha que não contém melitina (mas que possui outros assassinos de células) teve baixa eficácia que diz respeito às células do câncer de mama. Mas o envenenador com a substância fez diferença, podendo suprimir o crescimento células cancerosas e reduzindo os níveis de uma molécula que as células doentes usam para sabotar o sistema imunológico.

De acordo com a médica Ciara Duffy, do Instituto de Pesquisa Médica Harry Perkins, foi nítido o extremo poder do veneno, que inclusive pode “destruir completamente as membranas das células cancerosas em 60 minutos”.

Cabe frisar que o veneno de abelhas melíferas já foi usado no tratamento de outras doenças, como eczemas, e se mostrou potencial candidato como remédio alternativo.

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Cientistas se surpreenderam com resultados positivos do veneno frente às células cancerosas. Créditos: Gorodenkoff / Shutterstock

Melitina e cânceres mais agressivos

O experimento também obteve surpreendente êxito em células de câncer TNBC, que são responsáveis por até 15% de todos os cânceres de mama. Este tipo de doença faz com que o corpo, em muitos casos, produza mais células chamadas EGFR do que células saudáveis.

Pesquisadores já sabiam deste fato e tentaram, outras vezes, desenvolver tratamentos para combater o mal, o que acabou nunca surtindo efeitos significativos porque qualquer ação também poderia afetar negativamente células normais.

No entanto, o estudo utilizando a melitina apresentou pouco impacto nas células saudáveis, pois a molécula visou apenas outras células que produziam muito EGFR e HER2 (também produzida excessivamente por alguns tipos de câncer de mama). Segundo o cientista-chefe da Austrália Ocidental, Peter Klinken, outro resultado observado foi a intervenção na capacidade destes componentes se multiplicarem.

“Descobrimos que a melitina pode ser usada com pequenas moléculas ou quimioterapias, como docetaxel, para tratar tipos altamente agressivos de câncer de mama”, ressaltou a médica Ciara Duffy, que ainda frisou o ótimo resultado para a redução do crescimento de tumores nos camundongos do teste.

Conclusão

Os cientistas se mostraram satisfeitos com os resultados do estudo, mas também cautelosos, pois lembraram que para que a melitina seja usada efetivamente em tratamentos contra o câncer de mama, ainda há um longo caminho.

Outro aspecto ponderado pelos estudiosos foi a questão de as abelhas estarem enfrentando ameaças significativas à saúde, o que deve ser analisado antes de colocá-las como aliadas contra doenças de humanos.

Fonte: Science Alert

Colaboração para o Olhar Digital

Leticia Riente é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital