Na falta de anticorpos, células T podem indicar contato com Covid-19

De acordo com estudo, linfócitos T podem oferecer grau de imunidade em pacientes assintomáticos e com casos leves da doença
Redação06/07/2020 16h49

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Os exames sorológicos, ou testes rápidos, para a Covid-19 são utilizados para mapear a incidência do novo coronavírus em populações. Barato, de fácil aplicação e rápido processamento, o método analisa o volume de anticorpos específicos contra o vírus em amostras de sangue e pode indicar se uma pessoa já esteve em contato com o microorganismo invasor.

Estudos recentes, no entanto, mostram que pacientes com sintomas leves ou assintomáticos podem apresentar poucos, ou mesmo nenhum anticorpo após a infecção. Diante dessa limitação, outro marcador de imunidade chama a atenção de cientistas: as células T. Também conhecidas como linfócitos T, essas partículas são responsáveis por identificar e destruir células infectadas por invasores.

De acordo com o G1, um estudo do Instituto Karolinksa, na Suécia, indica que as células T podem oferecer alguma imunidade ao novo coronavírus em pacientes que não apresentam anticorpos em exames sorológicos. A pesquisa diz ainda que pacientes com alta quantidade de linfócitos T apresentaram maior resistência ao novo coronavírus, durante experimentos.

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Ilustração de uma célula T. Fonte: Shutterstock

As células T assumem essas funções protetivas também em pacientes com sintomas leves ou assintomáticos. Dessa forma, a análise sobre a atividade dessas células no organismo pode indicar se os pacientes tiveram contato com o novo coronavírus. Especialistas ressaltam, no entanto, que exames para identificar os linfócitos são caros, complexos e trabalhosos.

“Para trabalhar com linfócito, você tem de tirar a célula viva e trabalhar com essa célula ainda viva. Os ensaios para você ver a atividade demoram alguns dias, tem todo um processamento de material que é demorado, laborioso e muito mais caro”, explica Adriana Bonomo, pesquisadora do Laboratório de Pesquisa sobre o Timo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), em entrevista ao G1.

A microbiologista e pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, Natalia Pasternak, ressalta que é preciso desenvolver novas tecnologias para agilizar o processamento do exame, de modo a viabilizar testagens em massa.

Imunidade cruzada

A capacidade protetiva dos linfócitos T é resultante de um fenômeno chamado imunidade cruzada. As células T são parte da imunidade adaptativa – isto é, o mecanismo do nosso sistema imunológico que cria memórias sobre as características de corpos estranhos que invadem o organismo e como combatê-los.

A imunidade cruzada ocorre quando essa memória criada é útil para combater novos vírus. Um estudo recente publicado na revista “Cell”, indica a possibilidade de o contato de pacientes com coronavírus anteriores ter aprimorado a resposta dos linfócitos T ao agente causador da Covid-19. Isso porque, embora diferentes, eles resguardam semelhanças.

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Representação do novo coronavírus (SARS-CoV-2). Família de coronavírus é caracterizada pelas proteínas em forma de espícula na superfície, que atribuem aos vírus um aspecto de coroa. Imagem: Wikicommons.

“Vamos dar um exemplo com o Influenza, que é superconhecido. Todo ano, a gente tem que tomar vacina de Influenza, porque o vírus muta. Mas quem toma em um ano e não toma no seguinte tem uma proteção parcial. Por quê? Porque os vírus são parecidos, e você faz uma resposta imune específica reconhecendo pedaços, e esses pedaços é que são similares”, explica, em entrevista ao G1, a pesquisadora do Laboratório de Pesquisa sobre o Timo do Instituto Oswaldo Cruz, Adriana Bonomo.

A pesquisadora diz que os vírus da SARS e da Covid-19 são bem parecidos, mas alerta que as pesquisas mostraram somente que há resposta imune das células T, porém ainda não indicaram se essas células são capazes de garantir a proteção efetiva dos indivíduos contra o novo coronavírus.

Como aponta reportagem do G1, as células T são também objetos de estudo de cientistas no desenvolvimento de vacinas e tratamentos. No Reino Unido, cientistas testam um medicamento chamado interleucina 7, que induz o aumento da produção de células T no corpo. A ideia é verificar se o composto pode ajudar na recuperação de contaminados pelo novo coronavírus.

No Brasil, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e o Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor) desenvolvem uma vacina que, além de buscar a produção de anticorpos contra o vírus, conta com componentes adicionais para estimular a atuação de células T.

Fonte: G1

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital