Estudo aponta redução de anticorpos três meses após infecção por Covid-19

Casos assintomáticos têm redução mais acentuada nos anticorpos imunizantes, mas isso não necessariamente significa que não há imunidade
Renato Santino19/06/2020 18h58, atualizada em 19/06/2020 19h00

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A questão da duração da imunidade de Covid-19 ainda intriga cientistas do mundo. Até o momento, não há casos confirmados de reinfecção, mas como a doença ainda é muito nova, ninguém pode garantir por quanto tempo o sistema imunológico é capaz de proteger contra um novo contágio. Agora, um estudo chinês publicado na revista Nature traz novos dados sobre o assunto: pacientes viram seus níveis de anticorpos caírem após dois ou três meses de estarem curados.

O estudo de pequena escala conseguiu acompanhar 37 pessoas que por meio de rastreamento de casos puderam ser diagnosticadas com o coronavírus e foram hospitalizadas, mas que não desenvolveram os sintomas nem antes nem durante a internação, ainda que exames mostrassem alterações nos pulmões. No total, foram 178 pessoas acompanhadas pelo estudo.

Essas pessoas foram acompanhadas durante a hospitalização e depois para saber como o sistema imunológico reage a esse tipo de infecção. Logo de cara já foi possível perceber que casos com sintomas geram mais anticorpos do que os assintomáticos após uma medição feita em um período de 3 a 4 semanas após a exposição ao vírus.

No entanto, os pesquisadores também perceberam distinção na reação do sistema imunológico 8 semanas após a conclusão do caso e a dispensa do hospital. Cerca de 40% dos casos assintomáticos já tinham níveis indetectáveis de um dos anticorpos gerados pela infecção, o IgC, contra apenas 13% dos sintomáticos. Entre os anticorpos imunizantes, a queda não foi tão grande, mas foi notada nos dois grupos: 81% dos assintomáticos viram uma redução, contra 62% entre os sintomáticos.

O artigo não tenta responder o que isso significa para a imunidade de longo prazo para Covid-19, mas traz informações que podem servir para entender melhor os riscos de medidas como “passaportes de imunidade“, que dariam aos recuperados da doença mais liberdade para retomar uma vida normal e o trabalho. Também aponta para os riscos de se esperar por uma imunidade coletiva (a imunidade de “rebanho”), deixando a população se infectar livremente na esperança de que, quando o vírus alcançar um número alto o suficiente de pessoas, ele para de circular por não encontrar mais organismos suscetíveis à infecção. São estratégias inviáveis se a imunidade durar apenas 3 meses.

Outro estudo publicado pela Nature traz mais informações sobre esse assunto, indicando que os anticorpos imunizantes remanescentes após um período de infecção também são os mais potentes contra o vírus. Os pesquisadores, no entanto, não podem dar certeza se apenas esse baixo nível de anticorpos seria capaz de impedir uma nova infecção.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital