Covid-19: estudo com 47 drogas aponta novos potenciais tratamentos

Pesquisadores norte-americanos identificaram ao menos seis substâncias promissoras que podem inibir a replicação do coronavírus; estudos não são conclusivos
Redação04/05/2020 17h27, atualizada em 04/05/2020 18h50

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Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade da Califórnia São Francisco, nos Estados Unidos, identificou novas drogas com potencial de tratamento para a Covid-19. Publicados nesta quinta-feira (30), na revista científica Nature, os resultados da pesquisa são preliminares e não apresentam evidências suficientes para confirmar a eficácia dos medicamentos contra o novo coronavírus.

Em artigo ao The Conversation, Nevan Krogan, coautor da pesquisa e diretor do Instituto de Biociências Quantitativas da Universidade da Califórnia São Francisco, explica que o trabalho partiu de um mapeamento das proteínas existentes no novo coronavírus (Sars-Cov-2). A análise indicou quais estruturas virais poderiam interagir com proteínas humanas durante a infecção.

Na sequência, os cientistas estudaram como mais de 2 mil drogas cadastradas pela Food Drug Administration (FDA), órgão regulador dos EUA, afetam as proteínas identificadas na etapa anterior. Deste grupo, foram selecionadas 69 substâncias, das quais 47 passaram por uma série de experimentos laboratoriais durante o mês de abril.

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Pandemia do novo coronavírus já infectou mais de 3,5 milhões de pessoas em todo o planeta (Foto: 4X-image/iStock)

Os medicamentos foram aplicados a soluções com células de macacos infectadas por Covid-19. Após o período de experimento, os cientistas observaram a quantidade de células do coronavírus vivas na amostra e compararam com soluções de células infectadas que não receberam qualquer tipo de substância (grupo de controle).

A partir das amostras que apresentaram uma contagem mais baixa de vírus em comparação com o grupo de controle, cientistas selecionaram drogas com potencial de interromper o ciclo de replicação viral.

Entre os compostos promissores, configuram os fármacos ternatin-4 e zotatifin, já utilizados para o tratamento de mieloma múltiplo, um câncer que afeta células da medula óssea. O estudo ainda apontou o potencial dos medicamentos antipsicóticos haloperidol e melperone, bem como dos anti histamínicos clemastina e cloperastina.

Nenhuma das substâncias promissoras foi testada em humanos com a finalidade de tratar o novo coronavírus. Os próprios autores ressaltam que o artigo não produz evidências suficientes que comprovem a eficácia desses tratamentos e é preciso analisar os resultados com cautela.

Tradução do RNA

De acordo com Krogan, a principal qualidade do estudo é não ter apenas revelado potenciais tratamentos para o novo coronavírus, mas também retratado como essas drogas atuam para inibir a infecção da Covid-19.

Ao entrar em uma célula humana, o vírus a induz a produzir proteínas virais por meio do processo de tradução do RNA (material genético). Dessa forma, o agente patógeno se multiplica com o intuito de atacar outras células e repetir a mesma dinâmica.

O mapeamento dos cientistas da Universidade da Califórnia São Francisco apontou que uma série de proteínas virais interagem com proteínas humanas envolvidas na tradução do RNA. Após os testes com medicamentos, os cientistas identificaram que o ternatin-4 e o zotatifin modificam as proteínas envolvidas neste processo inibindo os recursos necessário para que o coronavírus possa replicar seu material genético.

Krogan lembra que outro fármaco, o Plitidepsin, que possui moléculas similares ao ternatin-4, já é empregado em testes clínicos para tratar a Covid-19.

Receptores Celulares

As demais drogas promissoras atuam sobre receptores celulares, tais mecanismos são encontrados no interior e na superfície das células. Quando uma molécula específica se liga a um receptor específico, a informação que chega às células é de que executem uma tarefa. Trata-se de um canal comumente utilizado por vírus para infectá-las.

A pesquisa identificou que dois receptores podem ser fundamentais no tratamento da Covid-19, o SigmaR1 e o SigmaR2. O problema, no entanto, é que os pesquisadores ainda não sabem exatamente como as proteínas do coronavírus interagem com tais receptores.

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O estudo também analisou a hidroxicloroquina. Medicamento, no entanto, foi classificado como ineficiente. Foto: Reprodução

A principal hipótese é que o agente causador da Covid-19 se aproveita dos mecanismos para infectar a célula e se reproduzir. O estudo aponta, porém, que o haloperidol, a melperone, a clemastina e a cloperastina podem ser capazes de atrapalhar essa relação entre o coronavírus e os receptores Sigma.

Krogan destaca ainda que entre os compostos que interagem com os receptores está dextrometorfano, uma medicamento comumente utilizado para controlar a tosse. Porém, os experimentos em laboratório indicaram que a substância tem um efeito oposto às demais e favorece a replicação do coronavírus.

“Essa é uma descoberta potencialmente muito importante, mas, não podemos afirmar com certeza, são necessários mais testes para determinar se produtos com essa substância devem ser evitados por alguém que tenha o Covid-19.”, escreveu Krogan no The Conversation.

O cientista ainda ressalta que “todas essas descobertas, apesar de empolgantes, precisam ser submetidas a testes clínicos antes do FDA ou qualquer outra pessoa concluir se deve ou não tomar qualquer um desses medicamentos”.

Hidroxicloroquina

A hidroxicloroquina compõe o catálogo de medicamentos analisados pelo grupo da Universidade da Califórnia São Francisco. O medicamento já é testado em combinação com outras drogas para tratar pacientes com Covid-19, inclusive no Brasil. O fármaco, no entanto, apresenta evidência contraditórias quanto a sua eficácia e riscos.

A pesquisa Krogan e seus colegas aponta que a hidroxicloroquina também reage aos receptores Sigma R1 e SigmaR2. Entretanto, os experimentos laboratoriais apontaram que a droga é ineficiente neste caso. “Os pesquisadores sabem há muito tempo que a hidroxicloroquina se liga facilmente aos receptores no coração e pode causar danos. Devido a essas diferenças nas tendências de ligação, não achamos que a hidroxicloroquina seja um tratamento confiável. Os ensaios clínicos em andamento devem esclarecer em breve essas incógnitas”, afirmou Krogan.

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital