Nesta terça-feira (8), no segundo dia de audiências no Old Bailey, tribunal criminal central da Inglaterra, Julian Assange, fundador do WikiLeaks, foi advertido pela juíza que poderia ser afastado e julgado em sua ausência caso continuasse a interromper o processo.

O episódio ocorreu após Assange gritar “bobagem” enquanto James Lewis, representante do governo norte-americano, ter dito a uma testemunha que o fundador estava sendo extraditado por publicar nomes de informantes no Iraque e no Afeganistão – que colocaram a vida desses em risco, e não pelo vazamento de documentos. 

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Segundo a juíza Vanessa Baraitser, Assange não deveria falar, mesmo ouvindo coisas com as quais discordava, já que estava no banco dos réus. “Se você interromper o processo e interromper uma testemunha que está prestando depoimento de maneira adequada, posso continuar sem você em sua ausência”, disse Baraitser.

Clive Stafford-Smith, criador da instituição de caridade Legal Reprieve, disse que “graves violações da lei”, como o uso de drones dos EUA para ataques direcionados no Paquistão só foram trazidas à tona com a ajuda de documentos publicados pelo site.

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Mark Feldstein, professor de jornalismo dos EUA e ex-jornalista investigativo, foi chamado como testemunha especialista pela equipe jurídica de Assange. De acordo com ele, o governo Donald Trump o perseguiu mesmo depois das autoridades norte-americanas terem decidido não processá-lo, e quando o atual presidente americano chegou ao poder, a situação mudou. Na época, o então diretor do FBI, James Comey, falou na possibilidade de impedir novos vazamentos, supostamente sugerindo “colocar uma cabeça em uma lança como uma mensagem”.

A audiência deverá correr por mais quatro semanas. Assange enfrenta 17 acusações que podem levá-lo a 175 anos de prisão nos EUA. 

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Quem é Julian Assange?

Fundador do site WikiLeaks, Julian Assange é jornalista e ficou conhecido após publicar vários documentos confidenciais dos EUA. A organização sem fins lucrativos foi criada pelo australiano em 2006 e ganhou os holofotes ao publicar documentos secretos do exército norte-americano sobre abusos do ocorridos durante a guerra do Afeganistão. 

Há uma década, Assange e o WikiLeaks foram responsáveis por enfurecer os EUA ao publicarem milhares de documentos americanos secretos. A partir disso, várias tentativas de perseguição se seguiram. A primeira delas em forma de dois mandatos de prisão expedidos pela Justiça da Suécia, acusando-o por estupro e agressão sexual. As ações foram retiradas anos depois por não sustentarem evidências concretas.

Além das acusações de espionagem, uma ordem de prisão internacional determinada pela Interpol em 188 países também foi expedida em uma tentativa de capturar o jornalista. Assange se entregou uma semana depois e solto somente em dezembro de 2010 em liberdade condicional, após ter pago fiança.

Em 2011, foi determinada sua extradição à Suécia, mas o jornalista recorreu à corte suprema do Reino Unido. Apesar disso, a sentença foi confirmada e Julian Assange se refugiou na embaixada do Equador em Londres em 2012, buscando asilo político. Após sete anos encarcerado, Lenín Moreno revogou o asilo ao jornalista e o entregou à polícia britânica. Desde então, o jornalista aguarda uma decisão sobre uma possível extradição aos EUA. Partidários de Assange o veem como um herói da liberdade de expressão, expondo abusos de poder e hipocrisia de Washington.

 

Reprodução

Manifestantes se reúnem fora da prisão de Belmarsh, em apoio à Campanha ‘Julian Assange Livre’ no dia da audiência que decidirá extradição do fundador do WikiLeaks. Créditos: John Gomez/Shutterstock

 

Grandes veículos e ONGs criticam acusação de espionagem

  • New York Times: “Julian Assange, o líder do WikiLeaks, foi indiciado por 17 acusações por violar o Espionage Act por seu papel na obtenção e publicação de documentos militares e diplomáticos secretos em 2010, o Departamento de Justiça anunciou na quinta — um grande caso que traz à tona profundos problemas com a Primeira Emenda”.
  • The Guardian: “Ao levantar novas acusações contra o fundador do WikiLeaks, a administração Trump desafiou a primeira emenda”.
  • The Nation: “A Acusação de Julian Assange é uma Ameaça para a Liberdade de Imprensa”.
  • Huffington Post: “As acusações contra o fundador do WikiLeaks levantam muitos problemas com a Primeira Emenda”.
  • Edward Snowden: “O Departamento de Justiça acaba de declarar guerra — não contra o WikiLeaks, mas contra o próprio jornalismo. Não é mais sobre Julian Assange, esse caso vai decidir o futuro da mídia”.
  • ACLU: “Pela primeira vez na história de nosso país, o governo levantou acusações criminais no Espionage Act contra um editor pela publicação de informações verídicas. Esse é um ataque direto contra a Primeira Emenda”.

 

Via: The Guardian