Cientistas podem ter entendido como o coronavírus afeta o cérebro

Além de presente nos pulmões, o vírus pode chegar até o cérebro e causar confusão mental e até delírios
Luiz Nogueira11/09/2020 14h10, atualizada em 11/09/2020 15h00

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Estudos feitos recentemente indicam que o novo coronavírus atinge, além dos pulmões, rins, fígado e os vasos sanguíneos. No entanto, uma parte dos infectados também relata sintomas neurológicos, que podem incluir dores de cabeça, confusão e delírio. Isso sugere que o vírus também afeta o cérebro.

Um novo estudo, resultado de uma parceria entre pesquisadores de diversas universidades, publicado na plataforma bioRxiv, que hospeda de trabalhos científicos que ainda não passaram pelo processo de revisão por pares, oferece uma evidência de que, em algumas pessoas, o novo coronavírus invade células cerebrais, sequestrando-as para fazer cópias de si mesmo. O vírus também parece acabar com todo o oxigênio próximo, matando algumas células por falta dele.

Reprodução

Além dos pulmões, o vírus afeta rins, fígado e os vasos sanguíneos. Foto: Tomasz Makowski/ Shutterstock

Apesar disso, ainda não está claro como as partículas do vírus chegam ao cérebro ou com que frequência essa destruição é realizada. Há possibilidade de ser um fato isolado – e que algumas pessoas sejam suscetíveis por conta de antecedentes genéticos.

O estudo ainda não foi completamente avaliado por especialistas para publicação, mas, segundo Michael Zandi, neurologista consultor do Hospital Nacional de Neurologia e Neurocirurgia da Grã-Bretanha, a pesquisa pode oferecer “evidências concretas de que o vírus pode infectar o cérebro, embora soubéssemos que era uma possibilidade”.

Realização do estudo

Os pesquisadores coletaram dados de três fontes para escrever a pesquisa. A primeira parte das observações usou tecido cerebral de uma pessoa que morreu de Covid-19. Em seguida, os cientistas criaram um modelo de infecção que utilizou camundongos. Por fim, agrupamentos de células cerebrais foram observadas, seu objetivo era o de imitar a estrutura tridimensional do cérebro.

Com essas informações, foi possível concluir que o novo coronavírus é bastante furtivo. Outros patógenos, como o Zika, são conhecidos por infectar células cerebrais. Por conta disso, as células imunológicas, percebendo o problema, invadem os locais danificados e tentam destruir a infecção.

O coronavírus, por outro lado, explora o mecanismo das células cerebrais para se multiplicar, mas não causa nenhum dano direto. Em vez disso, elimina o oxigênio destinado às células adjacentes, fazendo com que morram.

A pesquisa atual não encontrou evidências de uma resposta imunológica do corpo para tentar evitar o problema. “É uma espécie de infecção silenciosa. Este vírus tem muitos mecanismos de evasão”, disse Akiko Iwasaki, imunologista da Universidade de Yale e uma das envolvidas no estudo.

Possibilidade de movimentação dentro do corpo

Ainda não se sabe exatamente como o vírus chega ao cérebro, mas alguns especialistas indicam que isso pode ocorrer por meio do bulbo olfatório – que regula o cheiro – pelos olhos ou até mesmo pela corrente sanguínea.

Além disso, mais evidências precisam ser analisadas para determinar o quão comum pode ser a infecção cerebral – e se ela também está presente em pessoas que apresentam sinais fracos da doença.

Estima-se que até 60% dos pacientes hospitalizados em decorrência da Covid-19 apresentam algum sintoma neurológico. No entanto, isso não quer dizer necessariamente que o vírus invadiu as células cerebrais – é possível que eles sejam resultados de uma inflamação generalizada em todo o corpo. Por esse motivo, testes mais detalhados devem ser realizados.

Via: New York Times

Luiz Nogueira
Editor(a)

Luiz Nogueira é editor(a) no Olhar Digital