Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) documentaram o caso de uma brasileira que carregou o novo coronavírus por 152 dias, o mais longo período de infecção registrado no mundo.

A mulher, que não teve sua identidade revelada, é uma profissional da saúde que apresentou um quadro leve da doença em março. Os sintomas desapareceram em três semanas, mas o vírus continuou se multiplicando no organismo desde então.

Para os pesquisadores, o caso reforça o papel desempenhado pelos assintomáticos na transmissão da Covid-19. Embora acreditasse estar curada da doença, a paciente manteve o vírus ativo – isto é, potencialmente contagioso – por cinco meses, contrariando o período padrão de 14 dias apontado pelo Ministério da Saúde.

O tempo de negativação defendido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é ainda menor, de 10 dias. De acordo com a entidade, o vírus deixa de se multiplicar nas vias aéreas superiores após esse período em 60% dos infectados. 

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Novo coronavírus pode continuar no organismo meses após o desaparecimento dos sintomas. Imagem: Corona Borealis Studio/Shutterstock

Transmissão invisível

A paciente em questão está entre os mais de 3 mil profissionais da saúde acompanhados pela força-tarefa coordenada pela professora Teresinha Marta, do Instituto de Microbiologia da UFRJ. Deste número, 50 tiveram seus quadros infecciosos estudados minuciosamente, e retornaram ao laboratório repetidas vezes para a realização de exames.

Dos 50, oito carregavam o vírus de forma contagiosa após 14 dias do surgimento dos sintomas. Alguns ainda transmitiam a doença passados 40 dias.

A descoberta foi possível porque os cientistas isolaram o patógeno em culturas de células no laboratório, e notaram que ele continuava a se reproduzir. “Se o vírus se multiplica, é porque ele infecta”, explica Luciana Costa, uma das pesquisadoras envolvidas.

“Por isso, consideramos que profissionais de saúde só devem retornar ao trabalho após negativarem em exames moleculares de PCR”, explica. “E para a população, em geral, a segurança só virá com uma vacina. Antes disso, é máscara e distanciamento social“.

A médica afirma que este caso não é isolado. Ela destaca que uma das características que fazem o Sars-Cov-2 perigoso é que não raro ele circula sem sintomas, e dessa forma é levado adiante com eficiência.

“Essa mulher viveu cinco meses com o coronavírus, e o caso dela foi descoberto porque é uma profissional de saúde, mais atenta para o risco de transmissão e desde cedo participou do estudo”, afirma. “Mas suspeitamos que a persistência não é rara. Pode haver muita gente assim, e isso ajuda a explicar porque a circulação do coronavírus continua a se manter”, finaliza.

Via: O Globo