De acordo com um estudo feito pela Universidade do Texas, “nenhuma terapia se mostrou efetiva até agora” contra o novo coronavírus. O resultado foi obtido após os pesquisadores analisarem mais de 100 testes clínicos de medicamentos.
O trabalho de verificação, solicitado pela Associação Médica Americana (AMA), apontou para resultados que se dividem entre iniciativas que não deram certo e outras que ainda deixam os cientistas intrigados, mas que necessitam de testes mais aprofundados.
Publicado recentemente no periódico Jama, o trabalho de análise verificou toda a literatura médica envolvendo o novo coronavírus, e publicada até 25 de março. Até este período, 350 testes foram registrados.
Do total, muitos não eram específicos para a doença, alguns deles ainda se referiam a testes de vacinas, não medicamentos, o que invalidava o enfoque das análises neste momento. Além disso, alguns foram feitos exclusivamente com pacientes pediátricos e casos isolados, o que não era o foco principal. Por fim, restaram 109 iniciativas que registravam a intenção de análise dos pesquisadores.
Medicamentos utilizados
Desde o início da pandemia, drogas como o Tamiflu foram consideradas. Fármaco eficiente contra a gripe, o remédio foi usado em janeiro em pacientes infectados, e que não tinham recebido diagnóstico adequado. No entanto, seu uso foi desencorajado, já que não funcionava de forma efetiva.
Em meio às drogas descartadas, o antiviral Remdesivir, criado para combater o ebola, apresentou resultados que dão certa esperança para pesquisadores. Porém, mesmo com alguns dados positivos em relação ao uso da medicação, sua comercialização ainda não foi aprovada na maioria dos países.
Dados obtidos em pesquisas recentes com o antiviral mostram que, de um grupo de 53 pacientes infectados nos EUA, Itália, Japão e Canadá, 36 deles apresentaram alguma melhora após uso do medicamento. No entanto, os próprios autores das pesquisas reconhecem que ainda faltam evidências de sua eficácia.
Mesmo ganhando bastante atenção ultimamente, a hidroxicloroquina também não se mostrou exatamente eficaz como alguns previam. Na França, por exemplo, testes promissores com o remédio mostram um cenário de aplicação em grupos pequenos, e que não contabilizam pacientes que tiveram algum problema com adaptação ao medicamento.
Recentemente, um estudo brasileiro, realizado em Manaus, e que utilizava a cloroquina em um grupo de pacientes, teve de ser interrompido após possíveis problemas na segurança dos envolvidos. Voluntários que receberam doses muito altas do remédio começaram a desenvolver batimentos cardíacos irregulares.
Por fim, o Kaletra, apontado também como um fármaco promissor, não apresentou os resultados esperados. Na China, em um teste com 199 pacientes hospitalizados, não foi possível observar melhoras significativas em seu uso. No entanto, cientistas acreditam que possa haver efeitos perceptíveis ao aplicar o medicamento em casos mais graves – essa hipótese deve ser testada em seguida.
Possíveis candidatos
Mesmo com a incerteza envolvendo os fármacos citados, há alguma esperança em medicamentos desenvolvidos por alguns países fora do eixo dos Estados Unidos e Europa.
Como é o caso do Arbidol, aprovado em países como Rússia e China para tratamento de gripes severas. Em um teste recente, o remédio foi responsável por diminuir a taxa de mortalidade em um estudo feito com 67 pacientes chineses.
O mesilato de camostato também é um possível candidato. A droga, que foi criada no Japão, teve seu uso aprovado para pancreatite, porém, se mostrou eficaz no combate à Covid-19 em testes realizados em um tubo de ensaio. Obviamente, não há nenhuma evidência de que o comportamento do medicamento no organismo humano será o mesmo dos realizados em laboratório.
A droga Ribavirina, usada em testes anteriores conta a Sars e Mers – doenças causadas por outro tipo de coronavírus, mas igualmente agressivas – está sendo reconsiderado. No entanto, cientistas alertam para o histórico de efeitos colaterais do fármaco.
Durante os testes contra Sars, mais de 60% dos pacientes desenvolveram anemia hemolítica após receberem grandes dores do medicamento. Em testes similares contra a Mers, uma combinação de Ribavirina com Interferon fez com que 40% dos voluntários precisassem de transfusões de sangue.
Via: O Globo