Anticorpos criados em laboratório podem ajudar na proteção contra a Covid-19

Estudos de aplicação devem mostrar sinais de eficácia já nos próximos meses
Luiz Nogueira05/08/2020 14h05, atualizada em 05/08/2020 14h20

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Enquanto o mundo está focado em desenvolver uma vacina contra a Covid-19, há também uma corrida em encontrar maneiras de produzir anticorpos com o objetivo de aumentar a imunidade das pessoas contra o vírus.

Atualmente, ensaios clínicos com anticorpos monoclonais, que podem prevenir e tratar a doença, estão em andamento e podem produzir sinais de eficácia já nos próximos meses, talvez até antes dos resultados prometidos pelas empresas que trabalham em vacinas.

“Se fosse uma aposta, eu indicaria que teríamos uma resposta monoclonal antes de receber a resposta com uma vacina”, diz Anthony Fauci, chefe do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos.

Reprodução

Anticorpos monoclonais podem ajudar no tratamento da doença. Foto: Engadget

“Anticorpos têm o potencial de ser uma ponte importante até que a vacina esteja disponível”, declara Ajay Nirula, vice-presidente da Eli Lilly, uma das várias grandes empresas que investem neles. Com probabilidade de ser mais eficaz do que os medicamentos testados atualmente, os anticorpos poderiam proteger os profissionais de saúde de serem infectados e, ao mesmo tempo, diminuir a gravidade da doença em pacientes hospitalizados.

No entanto, fabricar monoclonais envolve linhas crescentes de células B que produzem anticorpos em biorreatores, levantando preocupações de que podem ser escassas e muito caras. Em julho, Eli Lilly, AstraZeneca, GlaxoSmithKline, Genetech e Amgen pediram ao Departamento de Justiça dos EUA se poderiam compartilhar informações sobre a fabricação de monoclonais. O objeto é de “expandir e acelerar a produção”.

Projeto de anticorpos

Logo após o início da pandemia, pesquisadores da indústria e acadêmicos começaram a identificar, projetar, ajustar e realizar testes laboratoriais de anticorpos monoclonais contra o Sars-Cov-2. A maioria dos trabalhos liga e neutraliza a proteína da superfície da célula.

Em maio, em conjunto com a AbCellera, a Lilly começou o primeiro estudo em humanos usando anticorpos monoclonais – que testava a segurança e a tolerabilidade de pacientes hospitalizados. Após isso, um braço chinês da empresa desenvolveu um coquetel de três monoclonais para aplicação em humanos.

Agora, a companhia testa a eficácia da criação, que combina anticorpos de uma pessoa que se recuperou e o de uma pessoa infectada. A aplicação será feita em dois grupos. O primeiro conta com 2.600 indivíduos hospitalizados em estado grave que devem receber a combinação desenvolvida. O segundo deve ter cerca de 1.300 pessoas que, mesmo infectadas pelo vírus, apresentem apenas sintomas leves ou moderados.

Resultados de eficiência

Embora seja muito cedo para definir uma previsão para que haja uma aplicação em larga escala, os envolvidos na pesquisa preveem que isso pode acontecer entre novembro e dezembro. Mesmo assim, esse prazo pode ser antes que a maioria das vacinas em desenvolvimento.

Segundo Christos Kyratsous, especialista em anticorpos monoclonais, os testes em vacina podem levar semanas até que uma pessoa desenvolva respostas apropriadas contra a infecção. Isso significa que essas tentativas exigem tempo e muita gente.

Por outro lado, os testes com anticorpos podem ser feitos em duas frentes: em pessoas que já contraíram o vírus e como prevenção. Isso aumenta as opções para aplicação da criação. Mesmo assim, Kyratsous admite que os anticorpos não superam as vacinas na questão de “popularidade”. De qualquer forma, eles podem desempenhar um papel importante no combate à Covid-19.

Diferença de valor

A prevenção da doença, que seria uma injeção intramuscular única, requer menos produtos do que as infusões intravenosas usadas no tratamento com anticorpos monoclonais. Por conta disso, o preço dessa aplicação, principalmente em doses mais altas, pode dividir o mundo entre os que podem pagar e os que esperam pela vacina convencional.

“É improvável que esse tratamento chegue a um preço que no futuro seja acessível em todo o mundo”, diz Seth Berkley, líder de um esforço internacional para encontrar uma vacina contra a Covid-19.

Independentemente do custo, as evidências de que os monoclonais funcionam podem beneficiar a todos, principalmente pesquisadores que querem trabalhar em possíveis tratamentos contra a doença.

Via: ScienceMag

Luiz Nogueira
Editor(a)

Luiz Nogueira é editor(a) no Olhar Digital