Saiba como a Terra é protegida de colisões de asteroides

Mapeamentos, pesquisas, missões para desviar trajetos e até mesmo bombardeamentos fazem parte do processo, que tem como função manter nosso planeta seguro
Vinicius Szafran07/01/2020 19h13, atualizada em 07/01/2020 20h20

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De todas as coisas que podem acabar com o planeta Terra, uma colisão de um asteroide pode ser uma das que os humanos têm mais controle. Mas quem de fato protege o planeta de uma catástrofe como essa?

Uma colisão de asteroide está na parte de baixo da lista de possíveis fins do mundo. Em um mundo com armas nucleares, onde a atividade humana está permanentemente alterando habitats e o clima, e onde o uso excessivo de antibióticos está levando a novos tipos mortais de bactérias, uma ameaça externa é o menor dos problemas. Mas os efeitos de colisões de asteroides – tsunamis, vendavais e ondas de choque – podem ser catastróficos. Então, existem cientistas que dedicam seu tempo e pesquisa para se preparar em caso deste cenário.

Embora nenhum asteroide conhecido tenha chance de causar destruição em larga escala, aqueles potencialmente perigosos são assuntos diários para tabloides – o governo dos Estados Unidos e cientistas de todo o mundo os levam a sério. Em 2018, a Nasa, a FEMA (Agência Federal de Gestão de Emergências) e outras agências espaciais se uniram para imaginar como seria uma colisão de asteroides, simulando as tomadas de decisões necessárias caso os telescópios encontrassem uma possível ameaça.

Reprodução

O Sistema Solar se formou a partir de um disco de matéria que cercava o Sol em sua juventude. Esse material se aglutinou para formar os planetas. Na região entre Marte e Júpiter, por exemplo, a forte gravidade do gigante gasoso impediu a formação planetária e, em vez disso, muitos pequenos corpos rochosos colidiram uns com os outros, e, agora, existem como asteroides.

Ocasionalmente, as forças gravitacionais de Júpiter podem perturbar as órbitas desses objetos. Outros objetos, como os cometas gelados, eventualmente se aproximam da Terra em suas órbitas elípticas. Juntos, esses asteroides e cometas compõem os “Objetos Próximos à Terra”, ou NEOs. Por definição, um NEO é qualquer corpo dentro de 1,3 unidade astronômica do Sol, onde 1 UA equivale a 150 milhões de quilômetros, a distância entre o Sol e à Terra, incluindo cometas com órbitas ao redor do sol que duram menos de 200 anos.

Reprodução/Nasa

Cientistas então elaboraram uma lista de NEOs com os quais devemos nos preocupar, chamados de asteroides potencialmente perigosos. Estes são corpos que cruzam a órbita da Terra e medem 140 metros de diâmetro ou mais, aproximadamente o tamanho de um estádio de futebol, e estão dentro de 0,05 UA do planeta, cerca de 20 vezes a distância média até a Lua.

Se algo desse tamanho se chocasse com à Terra, causaria uma catástrofe regional. O impacto de um meteorito pode gerar potenciais catástrofes, de ventos de alta velocidade a tsunamis ou imensas ondas de choque e calor o suficiente para cozinhar o corpo humano.

Impactos de asteroides há muito tempo vivem na preocupação pública. Já em 1694, o astrônomo Edmond Halley (do famoso cometa Halley) sugeriu que cometas poderiam se chocar com à Terra, teoria adotada por outros ao longo dos séculos seguintes.

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Então, em 1908, o famoso evento de Tunguska arrasou uma floresta na Rússia, e na década de 1930, cientistas começaram a descobrir grandes asteroides passando perto da Terra – talvez o de Tunguska tenha sido um asteroide e talvez houvesse mais para nos preocuparmos. E, em 1980, uma equipe de pesquisadores encontrou o raro elemento irídio em uma camada de rocha de, aproximadamente, 65 milhões de anos, que deduziram ter sido trazida por um grande asteroide. Essa descoberta, assim como outras pesquisas, ajudou a embasar e aceitar a teoria de que um grande impacto provocou a extinção dos dinossauros. Mas essa teoria era controversa e levou 30 anos para alcançar seu status atual.

Mas talvez o momento mais importante dessa história não tenha ocorrido na Terra. Em 1993, os cientistas Carolyn e Eugene M. Shoemaker, e David Levy, descobriram um cometa na órbita de Júpiter. O interesse no cometa Shoemaker-Levy 9, tanto científico quanto público, disparou quando os pesquisadores perceberam que ele colidiria com o planeta, o que aconteceu em julho de 1994, deixando marcas escuras em Júpiter que ficaram visíveis durante meses.

Esse foi um divisor de águas na comunidade científica, afinal, se algo pode se chocar com Júpiter, então algo poderia atingir à Terra. Graças a tudo isso, o Congresso americano ficou interessado em proteger o planeta dos impactos.

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O Congresso já havia solicitado à Nasa para criar um programa de observação de asteroides em 1992, mas em 1998 eles ordenaram que a agência catalogasse todos os asteroides próximos à Terra, com tamanho maior que um quilômetro, dentro de dez anos. Assim, a Nasa estabeleceu o Programa de Observação de NEOs, agora chamado de Centro de Estudos de NEOs, que compila e computa órbitas para asteroides próximos à Terra. Em 2005, o Congresso expandiu a meta de incluir 90% dos objetos com 140 metros, ou maiores, até 2020.

A defesa planetária é agora uma empreitada internacional, com um orçamento milionário. Para os EUA, o Escritório de Coordenação de Defesa Planetária da Nasa é responsável por projetos que buscam asteroides próximos e comunicam governo, mídia e público, sobre potenciais perigos. Eles também desenvolvem técnicas de pesquisa para evitar impactos, e coordenam com o governo e agências como a FEMA para responder a uma possível colisão.

Agências espaciais ao redor do mundo, como a Agência Espacial Europeia, a Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial, a Roscosmos e outras, realizam várias pesquisas e projetos sobre o monitoramento de NEOs.

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E quanto ao fato de nos preocuparmos ou não? Por enquanto, não existem asteroides conhecidos que sejam dignos de preocupação. Nenhuma das órbitas de asteroides listadas no banco de dados CNEOS está prevista para causar impacto nos próximos 188 anos. Mas, se houver alguma preocupação, deve ser sobre os asteroides ainda não encontrados.

Apesar das várias pesquisas, simplesmente não há infraestrutura adequada para encontrar todas as rochas espaciais. Algumas das missões não foram projetadas com o levantamento de asteroides em mente.

Também existem asteroides menores, que podem causar danos locais e atacar com pouco, ou nenhum, aviso. O meteoro de 20 metros de Chelyabinsk explodiu acima da Rússia em 2013, quebrando janelas e ferindo 1.491 pessoas. Em dezembro de 2018, um meteoro explodiu sobre o Mar de Bering, com dez vezes a força da bomba de Hiroshima. Esses impactos ficam abaixo do limite estabelecido pelo Congresso, mas ainda têm potencial de causar danos em menor escala.

Quando se trata de avaliar a probabilidade de um impacto e o dano que ele pode causar, os pesquisadores consideram o tamanho da Terra, assim como quantas vezes os asteroides de diferentes tamanhos a atingem.

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Meteoros inofensivos, do tamanho de grãos de poeira, atingem à Terra quase que constantemente e se queimam na atmosfera; a probabilidade de um asteroide de um metro atingir o planeta é de cerca de um impacto por ano e se tona menos provável com o tamanho do asteroide ao quadrado. As probabilidades de um impacto de uma rocha de 100 metros são uma vez a cada dez mil anos, e um asteroide de mil metros, uma vez a cada um milhão de anos.

E quanto a eventos maiores, eles são potencialmente evitáveis com o suficiente tempo de espera. Por exemplo, há a missão Teste de Redirecionamento de Asteroides Duplos (DART), uma demonstração que lançará uma espaçonave no asteroide menor no binário Didymos a 6 km/s.

A missão Hera da ESA acompanhará as observações dos efeitos da colisão. Os cientistas esperam que essas missões mudem a órbita do asteroide menor em torno do asteroide maior, e que, no futuro, as agências espaciais possam usar essas missões de “impacto cinético” para mudar a órbita de um asteroide ameaçador.

Existem também outras ideias para desviar asteroides perigosos. As agências espaciais poderiam colocar algo muito pesado ao lado da rocha para mudar sua rota através da gravidade, ou remover matéria da superfície do asteroide. E, claro, há sempre a opção de última hora de bombardear um asteroide que apresenta uma ameaça iminente – mas, no exercício de mesa da Conferência de Defesa Planetária deste ano, os cientistas escolheram bombardear um grande asteroide que arrasaria Denver, mas acabaram destruindo a cidade de Nova York.

Apesar da baixa probabilidade de um impacto de asteroide, suas terríveis consequências significam que esta continuará a ser uma área importante de pesquisa. Os cientistas agora levam a ameaça a sério.

Via: Gizmodo

Vinicius Szafran
Colaboração para o Olhar Digital

Vinicius Szafran é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital