De acordo com cientistas do Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos Estados Unidos, em nosso vizinho Mercúrio, onde a temperatura diurna chega a atingir 400 °C, é possível que haja gelo formado sem a interferência de asteroides (como acontece na maioria das vezes). Mesmo que isso pareça não fazer sentido, a resposta para tal fenônemo reside nos vulcões do planeta, os quais permitem que isso aconteça. 

Se de manhã o planeta atinge 400 °C, durante a noite é bem diferente: igualmente extrema, a temperatura noturna chega a congelantes -180 °C. Dentro das crateras dos vulcões, o cenário é ainda pior, já que é possível medir -200 °C devido à falta de qualquer luz solar o tempo todo. Ainda que esses números não pareçam viáveis para a vida humana, são eles que funcionam como um verdadeiro laboratório gigante na fabricação de gelo. 

Além da baixa temperatura que se instala dentro das crateras, os ventos solares que atingem Mercúrio – o planeta mais próximo do Sol – depositam partículas carregadas de prótons em sua superfície, proporcionando, assim, condições químicas básicas favoráveis à formação de gelo. “São como grandes tornados magnéticos e causam imensas migrações de prótons na maior parte da superfície do Mercúrio ao longo do tempo”, explicou Thomas Orlando, principal pesquisador do estudo.

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“O mecanismo químico básico foi observado dezenas de vezes em estudos desde o final dos anos 1960”, afirmou Brant Jones, autor do artigo sobre o estudo, publicado na revista científica Astrophysical Journal Letters. “Mas isso foi em superfícies bem definidas. A aplicação dessa química em superfícies complicadas, como as de um planeta, é uma pesquisa inovadora”, completou. 

E, com as condições químicas necessárias, o calor diurno extremo libera hidroxilas – grupo formado por um átomo de hidrogênio e outro de oxigênio -, que se energizam e se colidem, liberando moléculas de água, as quais se desprendem da superfície e ficam flutuando. Como Mercúrio não possui atmosfera, algumas dessas moléculas simplesmente vão embora, enquanto outras encaminham para os polos do planeta e se alojam nas crateras que protegem o gelo da luz solar. 

“A quantidade total que postulamos que se tornaria gelo é de 10¹³ kg (10.000.000.000.000 kg ou 11.023.110.000 toneladas) durante um período de cerca de 3 milhões de anos”, disse Jones. “O processo pode ser facilmente responsável por até 10% do gelo total de Mercúrio”. 

Em 2011, a sonda espacial Messenger, da Nasa, começou a orbitar Mercúrio e logo confirmou sinais típicos de gelo glacial próximo aos polos. O gelo parecia se espreitar pelas crateras polares do planeta que, assim como a Terra, apresenta cicatrizes de meteoros e asteroides que passaram por lá. O melhor exemplo é a Lua, que foi formada a partir da colisão Terra com outro planeta, fenômeno o qual deixou água por aqui.  

“Eu admitiria que muita água em Mercúrio foi fornecida por asteroides impactantes”, declarou Jones. “Mas também há a questão de onde os asteroides carregados com água conseguiram esse líquido. Processos como esses poderiam ter ajudado a chegar lá”, concluiu.