Assim como ocorreu com a Terra, Mercúrio também possui polos magnéticos que mudaram de lugar com o tempo, segundo um estudo recente na publicação “Journal of Geophysical Research”, da União Geofísica Americana (AGU). Hoje, o polo norte magnético do nosso planeta está a 965 quilômetros de seu polo geográfico, e segundo o novo estudo, o mesmo desvio de polo também está ocorrendo em Mercúrio.

Os polos magnéticos da Terra ancoram a magnetosfera, ou seja, o campo magnético ao redor do nosso planeta que nos protege da radiação solar. A magnetosfera e seus polos são artefatos do núcleo fundido da Terra, e os cientistas pensam que Mercúrio também possui um núcleo fundido.

Os cientistas sabem que Mercúrio evoluiu ao longo do tempo, mas não conseguem dizer definitivamente como isso aconteceu, disse Joana S. Oliveira, astrofísica do Centro Europeu de Pesquisa e Tecnologia Espacial da Agência Espacial Européia, em Noordwijk, na Holanda, e principal autora do estudo.

O fenômeno chamado de deriva polar é responsável por essa movimentação, e é causado por variações no fluxo de ferro fundido no núcleo do planeta. O estudo mostra que a mesma deriva polar provavelmente está acontecendo em Mercúrio, e que talvez a história por trás da deriva polar de lá seja mais complicada do que se pensava.

Os autores do estudo se basearam extensivamente nos dados coletados pela sonda Messenger (MErcury Surface, Space Environment, GEochemistry e Ranging) da Nasa, que foi a primeira a orbitar o planeta, permanecendo lá de 2011 a 2015. Esse foi o instrumento responsável por mostrar anomalias magnéticas fracas na superfície de Mercúrio associadas a crateras de impacto. Os autores assumiram que essas anomalias se deviam à presença de ferro nas rochas que impactaram a superfície e criaram as crateras.

Os cientistas sabem que, quando a rocha que cria as crateras esfria, ela preserva um registro do campo magnético do planeta na época. Enquanto essas rochas contiverem material magnético, elas se alinharão com o campo do planeta. Esse fenômeno é chamado “magnetização termo-remanescente”, e ocorreu em Mercúrio.

Para contornar isso, os autores deste estudo se concentraram em cinco crateras de impacto na superfície e nos dados magnéticos que o Messenger coletou quando se aproximou da superfície. As cinco crateras mostraram assinaturas magnéticas diferentes das medidas em todo o planeta. Elas têm entre 3,8 e 4,1 bilhões de anos, e os pesquisadores pensaram que elas poderiam conter pistas sobre a posição dos antigos polos de Mercúrio e como eles mudaram ao longo do tempo.

A partir daí, eles foram capazes de estimar a localização dos antigos polos magnéticos de Mercúrio, ou paleopolos. No entanto, a descoberta de que os polos antigos estavam longe do polo magnético sul e que mudavam de lugar surpreendeu. Era esperado que os polos se agrupassem em dois pontos próximos ao eixo rotacional de Mercúrio, muito parecido com o da Terra. Mas os polos foram distribuídos aleatoriamente e, chocantemente, estavam todos no hemisfério sul do planeta.

Essa evidência mostra que a história magnética de Mercúrio é um pouco diferente da vista na Terra. O que aconteceu por lá é o verdadeiro desvio polar, quando as localizações geográficas dos polos norte e sul mudam.

Agora os cientistas estão contando com o BepiColombo, a primeira missão da ESA a visitar o planeta, para realizar mais descobertas. A sonda chegará a Mercúrio em 2025 e passará um ou dois anos pof lá.

Via: Uol / UniverseToday