Por que não se preocupar com o asteroide que passará ‘perto’ da terra em abril

Apesar de pertencer a uma classe de objetos chamados NEOs, o alarme em relação à possibilidade do Asteroide 1998 OR2 se colidir com a Terra é exagerado
Liliane Nakagawa05/03/2020 18h02

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Por Marcelo Zurita*

Desde que nossos telescópios começaram a descobrir uma enorme quantidade de asteroides próximos à Terra, percebemos o quão vulnerável estamos em nosso cantinho do Sistema Solar. Especialmente nas últimas décadas quando a tecnologia, cada vez mais avançada, tem nos permitindo enxergar asteroides de poucos metros de diâmetro se aproximando da Terra.

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Entretanto, a mais nova preocupação que veio do espaço e atingiu em cheio os portais de notícia de todo o mundo foi o Asteroide 52768 (ou 1998 OR2), de corpo gigantesco, que foi descoberto em 1998, mas que não deveria ser fonte de preocupação, o que explicaremos a seguir.

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De fato, o Asteroide 52768 pertence a uma classe de objetos chamados de NEOs, ou seja, objetos próximos à Terra, e ainda é classificado também como PHA, um asteroide potencialmente perigoso. Pela definição da União Astronômica Internacional (IAU), devem ser classificados como PHA todos os objetos que se aproximem da Terra a menos que 7,5 milhões de Km e que tenham potencial para causar danos regionais significativos em caso de impacto, o que ocorre com asteroides maiores que 140 metros.

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O Asteroide 52768 recebe a designação de PHA porque pode se aproximar a cerca de dois milhões de quilômetros da Terra e além disso, possui um diâmetro estimado em três quilômetros, o que poderia causar um evento semelhante à extinção dos dinossauros em caso de impacto. Mas sabemos que isso não vai acontecer.

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Asteroides potencialmente perigosos precisam ser monitorados constantemente para que possamos perceber qualquer alteração em sua órbita que possa representar algum risco de impacto no futuro. Mas é só isso. Ser classificado como PHA não significa que o objeto pode se chocar com a Terra a qualquer momento.

No caso do Asteroide 52768, ele já tem uma órbita bem determinada e é certo que sua aproximação da Terra em 29 de abril será a mais de 6 milhões de quilômetros de distância. Muita gente acha que “em distâncias astronômicas, 6 milhões é muito próximo”. De fato, seria muito próximo se estivéssemos falando de uma estrela ou de um planeta. No caso de um asteroide, mesmo com 3 quilômetros de diâmetro, é uma distância enorme. Se fôssemos considerar 6 milhões de quilômetros próximo, teríamos que considerar que a Lua, que é bem maior e está a menos de 400 mil quilômetros de distância, está “raspando a Terra”. E teríamos que considerar também que passou perto aquele pênalti do Baggio na final de 1994 ou aquele do Elano nas quartas-de-final da Copa América de 2011.

Para medir o risco de impacto de um asteroide com a Terra, existem as escalas de classificação de risco, e nas escalas de Turim e de Palermo (as escalas utilizadas pela IAU), o Asteroide 52768 sequer possui classificação, o que significa que a chance dele impactar a Terra no próximo século, é zero.

Ok, você está quase convencido que o 52768 não vai impactar a Terra, mas há algum problema em se preocupar com ele? Na prática, não. Desde que você não doe seus bens, rasgue suas roupas e saia pelas ruas anunciando que o fim do mundo está próximo, não há problema em se preocupar com algo que não vai acontecer. A não ser pelo fato que talvez você esteja desperdiçando sua preocupação com o asteroide errado, e não com aquele que irá de fato atingir a Terra e trazer problemas para a humanidade.

Que asteroide é esse? Ninguém sabe. É um asteroide que ainda precisamos descobrir e para isso, precisamos de muitas observações e muito trabalho de conscientização para convencer as autoridades a investir mais nessa ciência. Precisamos descobrir o asteroide antes que ele encontre a gente. Falando nisso, você já ouviu falar do Asteroid Day?

Com informações: AstroNeos/Apolo11/CNEOS/MPC

Marcelo Zurita é presidente da Associação Paraibana de Astronomia, membro da SAB – Sociedade Astronômica Brasileira e diretor técnico da Bramon – Rede Brasileira de Observação de Meteoros

Liliane Nakagawa é editor(a) no Olhar Digital