Com o passar dos anos, a ideia de levar o homem novamente à Lua está cada vez mais presente. A Nasa, por exemplo, planeja maneiras de fazer isso. Recentemente, a agência espacial concedeu contratos para três empresas desenvolverem módulos lunares tripulados para tornar essa viagem possível.
Além disso, a agência planeja construir uma base lunar permanente antes do fim da década e usá-la como um atalho para Marte. No entanto, se astronautas vão passar a viver fora da Terra, eles têm de encontrar maneiras criativas para se manter. É muito caro enviar recursos para o satélite natural. Por isso, está fora de questão enviar material para a construção de estruturas.
Para resolver essa questão, uma equipe de pesquisadores europeus, em parceria com a Agência Espacial Europeia (ESA), demonstrou que a ureia, o segundo composto mais comum na urina humana – o primeiro, obviamente, é a água -, pode ser misturada com o regolito (composto solto sobre a superfície lunar) para formar um material de construção.
O resultado é um geopolímero com propriedades semelhantes ao concreto. Ele poderia ser usado para construir plataformas de aterrissagem, bases para que os astronautas pudessem se estabelecer e outras estruturas essenciais à vida.
Uso na Terra
Esse material já é usado regularmente por aqui como uma alternativa ecológica ao concreto convencional. Um dos principais ingredientes da massa é o cimento, porém, no caso do geopolímero, são utilizadas pedras pulverizadas ou cinzas volantes – resultado da queima do carvão.
Quando tudo isso é misturado com água e certos componentes reativos, vira uma massa semelhante às utilizadas por vidraceiros que podem ser moldadas na forma desejada antes de secar completamente e se tornar bastante forte.
No entanto, para formar essa massa, muita água é necessária. É aí que a urina entra. Quando o geopolímero é fabricado, um superplastificante é usado para reduzir o teor de H2O necessário para fabricação do concreto ecológico. Normalmente, naftaleno e policarboxilato são os componentes preferidos para isso.
Mas, como descoberto pelos pesquisadores, a ureia funciona tão bem quanto qualquer superplastificante e pode ser obtida facilmente na Lua. Em vez de filtrar os contaminantes na urina dos astronautas e reciclar a água residual, o que os cientistas propõem é armazenar o conteúdo e extrair o componente que será misturado.
Para testar a ideia, os especialistas misturaram pó de ureia sintética com um simulador de regolito lunar para criar estruturas cilíndricas do tamanho de um punho.
Proteção contra o Sol
O polímero pode ser essencial para ajudar os astronautas a se protegerem da radiação ionizante presente na superfície lunar. A Lua não possui uma atmosfera ou um forte campo magnético para desviar a radiação que emana do Sol, o que significa um risco alto de contrair câncer devido às longas estadias na superfície.
Pesquisadores querem criar base lunar com geopolímero composto de urina. Foto: 3000ad
O próximo teste realizado pelos pesquisadores é acompanhar se o geopolímero é eficaz na proteção contra a radiação. Além disso, a ESA deve assegurar que a fabricação do componente é possível a partir da superfície da Lua.
O experimento recente fabricou o geopolímero em temperatura ambiente e ao ar livre. A criação deve ser muito mais desafiadora na baixa gravidade encontrada na superfície lunar.
Problemas de produção
Apesar das qualidades do projeto, há um problema: a quantidade de urina produzida. As primeiras viagens para a Lua devem ser comedidas, por isso, não devemos esperar ver milhares de pessoas de uma vez. Considerando isso, a quantidade do componente principal do geopolímero pode sofrer com escassez.
É bastante improvável que a Nasa comece a enviar foguetes cheios de “xixi” para compensar essa diferença. Além do mais, existem outros usos para a urina além da criação de cimento. Uma opção é reciclá-lo e beber, assim como os astronautas fazem na Estação Espacial Internacional.
Embora exista água congelada no polo sul da Lua, ainda não está claro o quão difícil será extraí-la e usá-la. Além disso, há indícios de que ela está contaminada com mercúrio e sulfeto de hidrogênio, o que significa que deve ser limpa antes que seja segura para o consumo humano.
Mesmo que os humanos bebam água da Lua em vez de consumir urina reciclada, o uso dela para construção pode não ser a melhor escolha. Em vez disso, o cultivo de alimentos pode ser uma prioridade. A ureia se decompõe em amônia e dióxido de carbono, e certos tipos de micróbios são ótimos em converter esses componentes em sais de nitrato, um tipo comum de fertilizante.
Isso significa que poderia ser usado em um sistema de suporte à vida, em que a água da urina é reciclada e a ureia age como matéria-prima para fertilizantes vegetais. Pesquisadores do Centro Aeroespacial Alemão cultivam com sucesso vegetais com urina humana há anos.
No ambiente estéril da Lua, cada gota de líquido é importante. Portanto, seja usando-o como material de construção, fertilizante ou componente de suporte à vida, parece que a urina terá um grande papel a desempenhar, principalmente à medida que os humanos se aventuram pelo Sistema Solar.
Via: Wired