Em 2013, cientistas se surpreenderam ao descobrir micróbios crescendo em rochas vulcânicas localizadas no fundo do mar, no noroeste do Pacifico. Os sedimentos eram considerados jovens, já que ainda estavam quentes o suficiente para provocar reações químicas com a água do mar. A partir desses fenômenos, os pequenos organismos encontrados extraíam sua energia.
Agora, em descoberta semelhante, um grupo de cientistas da Universidade de Tóquio encontrou células vivas dentro de uma crosta oceânica extremamente velha e fria no meio do Pacífico Sul. Ainda não foi determinado como esses micróbios conseguiram sobreviver, já que as reações químicas envolvendo o calor da rocha e a água do mar não aconteciam.
Os cientistas, que coletaram as amostras em 2010, passaram a última década estudando todo o material encontrado. “Honestamente falando, eu não podia acreditar”, disse Yohey Suzuki, geocientista e um dos principais autores do estudo, publicado na revista científica Communications Biology.
A descoberta de vida microbiana em um local tão improvável suporta a possibilidade de que situações semelhantes possam ocorrer em toda a crosta oceânica – uma camada de rocha tão espessa quando o Monte Everest e que se estende por três quintos da superfície da Terra.
O fato de encontrar uma comunidade viva de micróbios dentro dessas rochas – um ambiente com pressão esmagadora e escassos nutrientes – é um testemunho da natureza empreendedora desses organismos.
Como se alimentam?
Os perfis genéticos montados pelos cientistas sugerem que essas comunidades são dominadas por bactérias conhecidas como heterótrofos. Ao contrário dos organismos descobertos em 2013, que usavam hidrogênio para converter dióxido de carbono em matéria orgânica para se alimentar, esses micróbios não conseguem sintetizar seus próprios alimentos e, em vez disso, precisam encontrar uma forma de sobreviver usando o ambiente ao redor. Nesse caso, eles parecem obter energia da matéria orgânica.
A comida dos heterótrofos pode vir dos resíduos e restos decompostos de vida marinha ou da decomposição química não biológica da própria crosta. Micróbios que comem metano também foram encontrados nessas antigas rochas.
No entanto, assim como o alimento dos heterótrofos, a origem do componente não é clara. Os cientistas apontaram que, talvez, esses bichos estejam sobrevivendo com restos de dezenas de bilhões de anos.
Vida em Marte
Indo um pouco mais longe, essa descoberta pode significar a existência de vida microbiana no planeta vermelho. “Os basaltos oceânicos da Terra são quimicamente muito semelhantes aos de Marte”, declara Arya Udry, cientista planetária da Universidade de Nevada, Las Vegas.
Essa teoria se sustenta ao pensarmos que, embora suas origens permaneçam incertas, o metano está presente em Marte, o que significa que alguns desses micróbios que se alimentam do elemento e habitam crostas, também poderiam existir de alguma forma no solo do planeta.
A descoberta desses organismos pode estar próxima. O Roover Perseverance, da Nasa, com lançamento previsto para este ano, reunirá dezenas de amostras de rochosas presentes em uma cratera de Marte como parte de um esforço para trazer pedaços do solo do planeta para a Terra.
Além disso, o Rover Rosalind Franklin, da ESA, que decolará em 2022, tem como objetivo pousar no planeta vermelho para procurar bioassinaturas.
Via: National Geographic