Micróbios do corpo podem indicar se morreremos nos próximos 15 anos

Estudos apontam que os micróbios presentes no corpo humano podem detectar doenças e problemas melhor do que os genes
Luiz Nogueira23/01/2020 11h55, atualizada em 23/01/2020 12h12

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Os micróbios presentes no corpo humano têm sido associados a muitas coisas. Agora, cientistas dizem que eles podem revelar muito sobre a saúde futura das pessoas. Dois novos estudos revelam que o “microbioma” a mistura de micróbios em nosso intestino – pode revelar a presença de doenças de forma mais efetiva do que os próprios genes – além de poderem antecipar o risco de morrer nos próximos 15 anos.

No primeiro estudo, os pesquisadores revisaram 47 teses que analisavam associações entre os genomas coletivos dos micróbios intestinais e 13 doenças comuns. Isso incluía esquizofrenia, hipertensão e asma – todas consideradas “complexas” porque são causadas por fatores ambientais e genéticos. Eles então compararam os resultados com outros 24 estudos da Associação Genômica (GWA), que correlacionavam variantes genéticas humanas específicas com doenças.

No geral, a assinatura genética dos micróbios intestinais foi 20% melhor em detectar uma pessoa saudável e um doente do que os genes, relatou a equipe em um artigo publicado este mês. O microbioma foi 50% mais eficiente do que os estudos da GWA em prever se alguém tinha câncer colorretal. O perfil genético de uma pessoa só superou o microbioma ao prever se alguém tinha diabetes tipo 1.

Embora o autor do estudo, Braden Tierney, biólogo computacional da Harvard Medical School, admita que a análise é preliminar, ele diz que o trabalho pode beneficiar as pessoas. “Podemos usar o microbioma e a genética humana para melhorar a qualidade de vida dos pacientes”. O objetivo diz ele, é identificar marcadores-chave nos dois conjuntos de genomas que possam ajudar a diagnosticar essas doenças complexas.

Ainda assim, Jeroen Raes, pesquisador de microbiomas do centro de Microbiologia VIB-KU Leuven, diz que os cientistas não sabem tanto sobre o microbioma quanto sobre como os genes humanos funcionam. Portanto, comparar os dois neste momento é “arriscado”.

No segundo estudo, os pesquisadores analisaram a ligação entre o microbioma de uma pessoa e sua vida útil. A análise aproveitou um estudo finlandês que coleta dados de saúde de milhares de participantes desde 1972. Desde 2002, os participantes doaram amostras de fezes sequenciadas 15 anos depois.

Os dados revelam que indivíduos com uma abundância de bactérias “Enterobacteriaceae” – uma família de bactérias potencialmente infecciosas que inclui Escherichia cole e salmonela – têm 15% mais chances de morrer nos próximos 15 anos, relatou a equipe.

Vale lembrar que a ligação entre as bactérias intestinais e o aumento do risco de morte ocorre nas populações finlandesas orientais e ocidentais, que têm diferentes origens genéticas e estilos de vida.

Em ambos os estudos, ainda não está claro por que o microbioma está ligado à morte e a doenças. É possível que os micróbios estejam causando problemas e diminuindo o tempo de vida de alguém. Mas também é possível que eles estejam refletindo o que mais está acontecendo no corpo.

De qualquer maneira, médicos e cientistas que desejam ajudar a prevenir e tratar doenças humanas “devem prestar muito mais atenção aos pequenos residentes em nosso corpo”, diz Tierney.

Via: Science Mag

Luiz Nogueira
Editor(a)

Luiz Nogueira é editor(a) no Olhar Digital