É sempre excitante quando uma nova sonda envia de volta à Terra uma imagem inédita de alguns dos nossos planetas vizinhos, ou alcança alguma região do Sistema Solar que até então era inexplorada. Porém, missões anteriores – e os dados coletados por elas – ainda têm muito com o que contribuir com o entendimento do Espaço.

Informações coletadas pela sonda Voyager 2 da Nasa há 34 anos e analisadas no ano passado encontraram algo que passou desapercebido pelos astrônomos da época. Voando a 81.433 quilômetros de altura sobre o topo das nuvens de Urano, a Voyager 2 capturou dados de um plasmoide – uma bolha magnética 22 mil vezes maior do que a Terra, que estourou levando parte da atmosfera do planeta para o Espaço.

A descoberta, relatada no Geophysical Research Letters, traz novas questões sobre o ambiente magnético único do planeta. Diferente de qualquer outro dos seus vizinhos no Sistema Solar, Urano gira quase perfeitamente de lado – como um galeto num daqueles assadores. E seu eixo de campo magnético aponta 60 graus para longe desse eixo de rotação. Assim, conforme o planeta gira, sua magnetosfera oscila como uma bola de futebol mal chutada.

Essa excentricidade levou os físicos Gina DiBraccio e Dan Gershman, do Centro de Voo Espacial Goddard, da Nasa, a acessarem as leituras do magnetômetro da Voyager 2, que monitorou a força e a direção dos campos magnéticos próximos a Urano lá em 1984. A ideia era elaborar planos para uma nova missão da agência espacial, que irá para Urano e Netuno.

Os dados da Voyager 2 são os mais próximos já coletados de Urano até hoje. Em sua missão pelo gigante gelado, a sonda encontrou dois novos anéis, 11 novas luas e temperaturas de -214°C.

Sem ter muita ideia do que encontrariam, eles foram mais fundos que os estudos anteriores, plotando um novo ponto de dados a cada 1,92 segundos. As linhas suaves do magnetômetro deram lugar a pontas e quedas irregulares. E foi aí que eles viram: um pequeno ziguezague no gráfico. “Você acha que isso poderia ser … um plasmoide?”, Gershman perguntou a DiBraccio, vendo o rabisco.

EMAGRECENDO PLANETAS

Todos os planetas do Sistema Solar estão vazando atmosfera no espaço. “O hidrogênio brota de Vênus para se juntar ao vento solar, o fluxo contínuo de partículas escapando do sol. Júpiter e Saturno lançam bolhas de seu ar eletricamente carregado. Até a atmosfera da Terra vaza – não se preocupe, ele permanecerá por mais um bilhão de anos ou mais”, explica a Nasa.

Essa fuga atmosférica é impulsionada pelo campo magnético de um planeta – que pode ajudar e dificultar o processo. “Os cientistas acreditam que os campos magnéticos podem proteger um planeta, afastando as explosões atmosféricas do vento solar. Mas eles também podem criar oportunidades de fuga, como acontece em Saturno e Júpiter quando as linhas do campo magnético se emaranham”, afirma a Nasa.

Relativamente desconhecidos na época em que a Voyager 2 sobrevoou Urano, os plasmoides eventualmente se tornaram reconhecidos como uma maneira importante de os planetas perderem massa. Essas bolhas gigantes de plasma, ou gás eletrificado, se desprendem do final da cauda magnetosférica do um planeta – a parte de seu campo magnético soprada pelo Sol como uma biruta.

Com o tempo, plasmoides em fuga podem drenar os íons da atmosfera de um planeta, alterando fundamentalmente sua composição. Eles haviam sido observados na Terra e em outros planetas, mas ninguém havia detectado plasmoides em Urano – ainda.

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O plasmoide que DiBraccio e Gershman encontraram durou apenas 60 segundos, “mas se você o modelasse em 3D, pareceria um cilindro”, conta Gershman. Comparando seus resultados com os plasmoides observados em Júpiter, Saturno e Mercúrio, eles estimaram uma forma cilíndrica com pelo menos 204 mil quilômetros de comprimento e aproximadamente 400 mil quilômetros de diâmetro. Como todos os plasmoides planetários, estava cheio de partículas carregadas – principalmente hidrogênio ionizado.

De acordo com suas estimativas feitas pelos físicos, plasmoides como esse poderiam representar entre 15 e 55% da perda de massa atmosférica em Urano – uma proporção maior do que Júpiter ou Saturno. Os pesquisadores acreditam que pode ser essa a maneira dominante de Urano lançar sua atmosfera para o espaço.

Mais descobertas desse tipo podem estar nos arquivos das agências espaciais, aguardando novas análises. “A maioria dos dados da Voyager 2 está disponível no Sistema de Dados Planetários da Nasa”, afirma DiBraccio, “e provavelmente ainda há muito a ser aprendido”.

Via: Nasa/PopSci