O que aprendemos desde que o Voyager 2 deixou o Sistema Solar

42 anos após seu lançamento, a espaçonave adentrou o Espaço Interestelar; entenda o que isso significa
Vinicius Szafran07/11/2019 19h14, atualizada em 07/11/2019 20h30

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Há um ano, a sonda Voyager 2 da Nasa se tornou o segundo objeto criado pela humanidade a sair do Sistema Solar e entrar oficialmente no Espaço Interestelar. A Voyager 2 foi lançada em 20 de agosto de 1977 – 16 dias antes de sua irmã, Voyager 1, que saiu do hemisfério norte do Sistema Solar em 2012.

A Voyager 2 foi enviada em uma jornada mais longa, e até hoje é a única nave espacial a visitar de perto Urano e Netuno. Depois, foi para o hemisfério sul da heliosfera (região mais externa do Sistema Solar, também chamada de “bolha”), diretamente para o espaço interestelar.

Em 5 de novembro de 2018, a Voyager 2 deixou oficialmente nosso sistema ao atravessar a heliopausa, fronteira que marca o fim da heliosfera e o início do Espaço Interestelar. Isso aconteceu a 119 unidades astronômicas do Sol (uma UA tem 149,6 milhões de quilômetros, aproximadamente a distância entre o Sol e a Terra).

A sonda foi capaz de analisar a composição dos ventos solares, a composição e o comportamento das partículas do plasma, a interação dos raios cósmicos, a estrutura e direção dos campos magnéticos, entre outras características que definem a borda do Sistema Solar. Aqui estão os cinco principais tópicos.

1. A bolha está vazando – dos dois lados.

A saída da Voyager 2 da bolha não veio sem surpresas. Segundo Stamatios Krimigis, da Universidade Johns Hopkins, a bolha estava “muito vazada”. Seu material foi descoberto no espaço interestelar. Os mesmos sinais de vazamento também foram encontrados pela Voyager 1, mas no sentido contrário: material interestelar foi encontrado entrando na bolha. As novas descobertas indicam que o vazamento da heliopausa, encontrado em duas partes muito distintas da heliosfera, não é algo raro, embora ainda não exista uma explicação para isso.

2. O limite da bolha é mais uniforme do que pensávamos.

Antes das missões Voyager, os cientistas previam que a bolha solar se dissolvia à medida que se afastava do Sol. A Voyager 2 confirmou que “de fato, há um limite muito nítido lá.” O instrumento de ondas de plasma da sonda detectou densidades plasmáticas muito parecidas com as registradas por sua irmã. Como o plasma solar é muito quente (cerca de 1 milhão °C) e o interestelar é muito frio (10.000 °C), a densidade do plasma aumenta em um fator entre 20 e 50 após cruzar a fronteira.

O fato de ambas as sondas terem deixado o Sistema Solar nas mesmas distâncias relativas (121 UA e 119 UA, respectivamente), deixou os pesquisadores surpresos. Modelos anteriores previram uma grande diferença entre elas, o que causa muitas dúvidas.

3. A composição da heliopausa varia com o local.

A Voyager 2 também fez algumas constatações que não se enquadram com um limite nítido. A maior delas envolve a medição do campo magnético dentro e fora da bolha. Os astrônomos esperavam que a direção do campo fosse muito diferente entre os dois. No entanto, “basicamente não houve mudanças”, situação observada também pela Voyager 1. Ao mesmo tempo, a heliopausa encontrada pela sonda 2 era mais fina e simples, com menos energia, do que a atravessada pela 1. Assim como a distância, essa observação levantou muitas perguntas – e poucas respostas.

4. A influência do Sol vai além do Sistema Solar.

O Sol consistentemente expele ondas de choque de plasma chamadas ejeções de massa coronal (CMEs), que ajudam a modelar o restante de nosso sistema. Acontece que o impacto da estrela vai além de suas fronteiras. Os dados de ambas as sondas mostraram que as CMEs se propagam além da heliopausa e diminuem a quantidade de raios cósmicos além da bolha. Supernovas liberam ondas de choque similares, porém mais intensas.

Considerando o potencial dos raios cósmicos de promoverem mutações biológicas na vida terrestre, essas descobertas suportam a ideia de que o Sol pode ter influenciado na evolução de vida fora da Terra, em nosso e em outros sistemas.

5. Esse foi o principal marco final do programa Voyager.

“Quando as duas Voyagers foram lançadas, a era espacial tinha apenas 20 anos”, disse Edward Stone, da Caltech. “Era difícil saber na época que algo poderia durar 40 anos.”

Ainda assim, as observações da heliopausa realmente marcam os últimos momentos das duas naves. Cada sonda é alimentada por geradores de plutônio-238, que passa por um processo natural de deterioração.

As duas missões continuarão a aprender como a heliosfera interage com o meio interestelar e nos fornece pistas sobre outros sistemas estelares. “Acreditamos que todas as estrelas possuem esse recurso”, conta Stone. Atualmente, não há planos para um sucessor do programa Voyager. No entanto, o sucesso das missões e as perguntas levantadas inspirarão outras viagens.

Via: MIT Technology Review

Vinicius Szafran
Colaboração para o Olhar Digital

Vinicius Szafran é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital