‘Batimentos cardíacos’ de Plutão criam vento e moldam o planeta

Aquecimento e congelamento das geleiras de nitrogênio que ficam na região em forma de coração de Plutão leva o gás a outras regiões do planeta
Vinicius Szafran06/02/2020 22h15

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Durante o sobrevoo de Plutão em 2015, a sonda New Horizon da Nasa registrou a imagem, hoje icônica, de uma característica região em forma de coração na superfície do planeta anão. Agora, uma nova pesquisa sobre o “coração gelado” de Plutão revelou que seus “batimentos cardíacos” podem esculpir a paisagem.

O coração é conhecido como Tombaugh Regio, nomeada em homenagem ao astrônomo Clybe Tombaugh, que descobriu Plutão em 1930. Muito do conteúdo de gelo de nitrogênio pode ser encontrado nessa região, concentrada em uma bacia profunda chamada Sputnik Planitia, com 3,1 quilômetros de profundidade. A camada de gelo se estende por 997 km. A bacia compõe o lado esquerdo do coração, enquanto o lado direito é o lar de geleiras de nitrogênio e falésias.

“Antes da New Horizon, todo mundo pensava que Plutão seria uma bola – completamente plano, quase sem diversidade”, disse Tanguy Bertrand, astrofísico e cientista planetário do Centro de Pesquisa Ames da Nasa e principal autor do estudo. “Mas é completamente diferente. Tem muitas paisagens diferentes e estamos tentando entender o que está acontecendo lá”.

Em Plutão, a atmosfera é cerca de cem mil vezes mais fina do que a da Terra. A atmosfera do planeta anão é composta por nitrogênio, metano e monóxido de carbono.

Reprodução

Durante o dia, o nitrogênio congelado no coração de Plutão se aquece o suficiente para se tornar vapor. À noite, sofre condensação e se congela novamente. É isso que os pesquisadores chamam de “batimento cardíaco” de Plutão, que controla a circulação atmosférica dos ventos de nitrogênio ao redor do planeta.

O novo estudo foi publicado nesta semana no Journal of Geophysical Union: Planets, da American Geophysical Union. “Isso destaca o fato de que a atmosfera e os ventos de Plutão – mesmo que a densidade da atmosfera seja muito baixa – podem afetar a superfície”, explica Bertrand. Esses ventos podem ser responsáveis pelas características intrigantes da superfície do planeta, vistas durante o sobrevoo de 2015.

Os pesquisadores descobriram que o vento de nitrogênio está se movendo na direção oposta à rotação do planeta. O vento move o calor, os grãos de gelo e outras partículas para perto da superfície, como uma escova que deixa faixas escuras nas regiões norte e noroeste de Plutão.

Usando os dados coletados pela New Horizon, os cientistas foram capazes de modelar a previsão de vento e clima do nitrogênio para ver como isso pode afetar o gelo e a paisagem. Eles descobriram que os ventos ocidentais de Plutão são causados pela vaporização do gelo de nitrogênio ao norte e pelas geleiras ao sul. É uma atmosfera única em nosso Sistema Solar, segundo os pesquisadores.

Reprodução

Os ventos ocidentais ocorrem cerca de quatro quilômetros acima da superfície. Mais perto, no entanto, o ar se move mais rapidamente, criando padrões de vento ao redor da borda oeste da bacia de gelo. As falésias da bacia ajudam a prender o ar frio, onde ele se fortalece antes de passar pela região.

Esses padrões climáticos regionais podem proporcionar uma maior compreensão das faixas e planícies escuras a oeste da bacia. Os pesquisadores acreditam que, se os ventos se movessem em uma direção diferente, Plutão poderia ser irreconhecível.

“A Sputnik Planitia pode ser tão importante para o clima de Plutão quanto os oceanos para o clima da Terra”, disse Bertrand. “Se você remover a Sputinik Planitia – se remover o coração de Plutão – não terá a mesma circulação”.

Via: CNN

Vinicius Szafran
Colaboração para o Olhar Digital

Vinicius Szafran é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital