Muito se falou nesta semana sobre o aniversário de 25 anos do Windows 95, um dos sistemas operacionais mais importantes na história da computação pessoal. Mas outro sistema operacional ainda mais importante, considerando o “mundo” da computação como um todo, também está fazendo aniversário: é o Linux.

Em de 25 agosto de 1991 Linus Torvalds, então um estudante de 22 anos na Universidade de Helskinki, na Finlândia, enviu um e-mail à lista de discussão comp.os.minix anunciando um pequeno projeto.

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“Estou criando um sistema operacional (livre) apenas como hobby, não será nada grande e profissional como o GNU, para clones AT 386 e 486. Estou desenvolvendo ele desde abril, e está começando a ficar pronto”, disse.

Mal sabia Torvalds que seu projeto se tornaria muito mais popular que o Minix (muito estudado em cursos de ciência da computação) ou GNU Hurd (o sistema ao qual ele se refere na mensagem), que seria visto pela Microsoft como uma séria ameaça à sua hegemonia ou que seria a base do sucesso e fortuna de grandes corporações. Nada mal para um “hobby”.

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Linus Torvalds, criador do Linux. Foto: Recorte do original por krd / Wikimedia Commons (CC-BY-SA 3.0)

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Você pode até pensar “peraí, ninguém usa Linux!”. E se você considerar apenas o mercado de “PCs” desktop e notebooks, está certo. Embora hoje seja tão fácil de usar quanto o Windows, o Linux é usado em apenas 2,3% das máquinas no segmento, segundo dados recentes, com a Microsoft dominando com 87,7%. Mas no resto, o cenário é diferente.

Mais de 70% dos smartphones no mundo são Android, e o coração de cada um deles é o kernel Linux. Você tem uma Smart TV com Web OS, um Chromecast ou FireTV? Tem Linux ali. Seus filhos usam um Chromebook para estudar? Mais uma vez, Linux.

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Dos 500 supercomputadores mais poderosos do mundo, 484 usam uma versão do Linux como seu sistema operacional (incluindo todos os 100 primeiros). E o Linux é o sistema operacional sobre o qual rodam os serviços e produtos oferecidos por empresas como o Google, Facebook, Twitter, etc, utilizados por bilhões de pessoas no mundo todo. Também foi o sistema escolhido pela SpaceX para operar veículos como os foguetes Falcon e a cápsula Crew Dragon, que leva astronautas à ISS.

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A astronauta Sunni Williams, da Nasa, testa os controles da Crew Dragon, cujo software é baseado em Linux. Foto: SpaceX

Os consoles de videogame também estão adotando o Linux, desafiando a velha (e incorreta) afirmação de que no Linux “não dá pra jogar”. O sistema operacional do Nintendo Switch, embora proprietário, usa componentes do Linux e do Android. E os mini-consoles que viraram febre nos últimos anos, como o NES Classic, SNES Classic, Mega Drive Mini e Turbografx-16 Mini são todos baseados em Linux.

A Microsoft, cujo CEO na época, Steve Ballmer, já considerou o sistema como “um câncer”, oferece o Linux como opção em sua plataforma de computação na nuvem, a Azure. Não só isso, o uso de Linux dentro da plataforma supera o do Windows Server, e atualmente o sistema pode até ser executado dentro do Windows 10.

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Satya Nadella, CEO da Microsoft, declarando o amor da empresa pelo Linux. Foto: Divulgação / Microsoft (CC-BY-SA 4.0)

O segredo do sucesso é a filosofia de desenvolvimento. Não existe um único “dono” ou empresa por trás do Linux. O código-fonte é aberto e pode ser estudado, e modificado, por qualquer um, e as modificações devem ser devolvidas à comunidade.

Linus Torvalds pode ser o “pai” e líder no desenvolvimento do sistema, mas conta com a ajuda de um verdadeiro exército de mantenedores e desenvolvedores, trabalhando voluntariamente ou empregados por empresas como a Intel, Google, RedHat e muitas outras, cada um colaborando com uma parte do projeto.

Isto torna o sistema incrivelmente flexível e adaptável, rodando tão bem em uma plaquinha barata como o Raspberry Pi, onde é a base para os mais variados projetos, quanto no Fugaku, o supercomputador mais poderoso do mundo. Quando uma nova plataforma de hardware surge, geralmente o Linux é o primeiro sistema operacional a rodar nela.

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Fugaku, o supercomputador mais poderoso do mundo em Junho de 2020, roda Linux. Foto: ARM / Reprodução

O Windows 95 mudou o mercado de computação pessoal, mas o Linux mudou todo o resto e, por isso, merece ser celebrado. Parabéns ao “Pinguim”!

Imagem de abertura: Jivacore/Shutterstock