Olhos multifacetados (como de abelhas, libélulas e moscas) são resultado de centenas de milhões de anos de evolução. Os trilobitas, por exemplo, já os possuíam há 429 milhões de anos. Esse fato foi comprovado recentemente por pesquisadores da Alemanha e Escócia, que encontraram um fóssil de trilobita com a estrutura dos olhos perfeitamente preservada.
Os trilobitas eram artrópodes que rastejavam pelas profundezas do oceano há mais 500 milhões de anos. Não é raro encontrar fósseis deles — por possuírem exoesqueletos ricos em carbonato de cálcio, seus restos mortais existem até hoje em grande quantidade. Contudo, se deparar com estruturas celulares tão bem preservadas é, sim, raro.
O fóssil em questão tem no mínimo 429 milhões de anos e foi encontrado na República Tcheca. Apesar de ser bem antigo, ele preservou em detalhes os olhos compostos (ou omatídeos) do artrópode, o que permitiu aos pesquisadores estudá-los com profundidade.
Detalhe da estrutura de omatídeos do trilobita. Imagem: Brigitte Schoenemann/Ars Technica
Componentes oculares
Eles observaram, por exemplo, que existia uma lente no topo de cada omatídeo. Essas lentes eram ligadas a células cônicas que ajudavam a focalizar a luz. Uma estrutura semelhante a uma haste carregava a luz em direção às celulas receptoras, que, por fim, enviavam as informações ao cérebro. Todos esses componentes estavam visíveis no fóssil.
“Até pouco tempo, ainda se acreditava que apenas dentes e ossos poderiam ser preservados nos fósseis, mas nunca estruturas celulares. Obviamente, isso mudou”, explicou Brigitte Schoenemann, pesquisadora da Universidade de Colônia e uma das responsáveis por encontrar o fóssil.
A descoberta foi publicada na revista Scientific Reports. No paper, os olhos do trilobita são comparados aos “de abelhas vivas, libélulas e muitos crustáceos que vivem à luz do dia”. De acordo com os cientistas, isso demonstra o quão antigo é esse sistema.
Os trilobitas desapareceram durante a passagem do período Permiano para o Triássico, há cerca de 252 milhões de anos, quando ocorreu uma extinção em massa que dizimou 95% das espécies. Com base no funcionamento de seus olhos, os pesquisadores afirmam que o espécime em questão provavelmente vivia em águas rasas e bem iluminadas, e possuía hábitos diurnos.
Via: Ars Technica