WhatsApp Pay pode abrir portas para novos golpes, diz especialista

Além disso, a fase inicial de implementação pode contar com 'falhas na integração com os bancos e com as operadoras de cartão de crédito', mesmo que sejam improváveis
Luiz Nogueira19/06/2020 19h37, atualizada em 20/06/2020 14h00

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Na segunda-feira (15), o WhatsApp lançou uma função que permite fazer e receber pagamentos por meio do mensageiro. Como algo que chegou primeiro ao Brasil, a novidade despertou a curiosidade de muitas pessoas. No entanto, a desconfiança também surgiu.

Muitos internautas questionaram a segurança do sistema devido ao histórico de inúmeros problemas de privacidade envolvendo o Facebook – dono do WhatsApp. Para entender como o sistema funciona e quais as medidas de segurança adotadas, conversamos com a Cielo, empresa parceira da iniciativa no Brasil, e que será responsável por processar os pagamentos realizados.

A companhia nos informou que todos os pagamentos são protegidos por várias camadas de segurança. Como garantia, será necessário cadastrar uma senha única, com seis dígitos, que será responsável por autorizar cada transação. Além disso, o usuário também terá a opção de utilizar a biometria do aparelho como medida de segurança.

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Chegada do recurso foi uma surpresa. Foto: WhatsApp/ Divulgação

No entanto, segundo Arthur Igreja, TEDx speaker e professor da FGV, há um risco durante a fase de implementação da funcionalidade. Ele afirma que há uma grande possibilidade das pessoas se confundirem nas primeiras semanas, e isso pode abrir portas “para uma série de golpes. Acredito que muitos vão receber links solicitando que pagamentos sejam processados e que não serão exatamente os do WhatsApp. Então muitos vão cair”, afirma.

Ainda falando sobre a fase de implementação, Igreja indica que, apensar de ter uma possibilidade menor de acontecer, podem haver “falhas na integração com os bancos e com as operadoras de cartão de crédito”.

Chegada do recurso

Assim como citado, o Brasil foi o primeiro país a receber a novidade – embora ela estivesse em testes na Índia. Isso foi recebido com surpresa pelos utilizadores brasileiros. No entanto, pode haver uma explicação para o ocorrido. Estima-se que, atualmente, o país possuí mais de 120 milhões de usuários ativos da plataforma. Provavelmente a empresa quis explorar esse fato.

Obviamente, como todo início, a funcionalidade ainda não está disponível para todos os usuários. Ela chega de maneira gradual. Porém, essa disponibilização tímida pode fazer com que dúvidas surjam em sua utilização. Por exemplo, um usuário que não fazia ideia de que algo assim seria lançado, pode achar estranho um sistema de pagamento. Se, por curiosidade, tentar utilizar a função sem conhecimento, pode cair em golpes.

Riscos

Ao ser questionado sobre os golpes já existentes no âmbito dos pagamentos, sejam eles digitais ou não, o especialista diz que o WhatsApp Pay pode fazer com que “golpes que usam transferência, resgate e recarga” fiquem mais fáceis de serem aplicados.

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WhatsApp Pay pode abrir portas para novos golpes. Foto: Spyzie

Para corroborar essa afirmação, podemos lembrar um golpe recente, em que os usuários foram persuadidos a enviar o código de verificação do mensageiro para golpistas. Com ele em mãos, o criminoso conseguiu clonar o WhatsApp da vítima e se passar por ela para aplicar golpes.

Com a implementação da funcionalidade, pode se tornar mais simples extorquir dinheiro dos contatos da vítima que teve a conta roubada. A pessoa pode, basicamente, solicitar o envio de uma quantia pelo WhatsApp. Isso talvez seja mitigado pela utilização de um PIN de segurança para usar o serviço. No entanto, se a pessoa não liberou a funcionalidade e não cadastrou um código, o criminoso pode se aproveitar disso.

Prevenção

Igreja destaca a importância de sempre manter o aplicativo atualizado. De acordo com ele, o WhatsApp libera uma série de atualizações sempre que percebe que “algo pode ser melhorado ou blindado”. Por conta disso, é sempre importante manter tudo atualizado.

No entanto, muitas pessoas não têm smartphones com grandes capacidades de armazenamento, o que impossibilita o download constante de updates. “Por conta disso, várias pessoas acabam mantendo seus aplicativos desatualizados, deixando brechas abertas”, informa.

Outra precaução importante é sempre usar bloqueio de tela, senha e biometria para proteger o aparelho. “A partir da hora que você pode fazer operações financeiras com seu WhatsApp, deixar o aparelho desguarnecido em algum alugar” é algo bastante perigoso.

Atualmente, o Brasil possui um número grande de furtos e roubos, principalmente de celulares. Com a segurança quebrada, dificilmente o criminoso vai conseguir acessar o aplicativo do banco, por exemplo, mas acessar o WhatsApp pode ser mais fácil.

Futuro da funcionalidade

Passada a fase de implementação, o recurso pode representar uma boa alternativa para que pessoas e pequenos empreendedores tenham mais opções para realizar e receber pagamentos.

Por conta disso, Igreja prevê que o WhatsApp caminha para ser um pequeno e-commerce, assim como o Instagram se mostrou. Assim, ele indica que os “próximos passos sejam a integração de ferramentas comerciais e outros tipos de transação”.

Ele cita a transferência internacional como uma possível implementação futura. Atualmente, as “transferências internacionais têm um custo altíssimo. Esse é um dos principais mercados que todos estão de olho. O WhatsApp é muito utilizado por famílias, as pessoas falam muito com seus entes e amigos que estão em outros países. Então eu imagino que isso seja algo que pode ser explorado”, finaliza.

Luiz Nogueira
Editor(a)

Luiz Nogueira é editor(a) no Olhar Digital