Um grupo de cientistas da Califórnia, nos Estados Unidos, afirma que algumas vacinas que estão em fase de testes contra a Covid-19 podem deixar as pessoas mais vulneráveis ao HIV. O problema seria o uso de um vetor denominado como Ad5. A equipe passou pela mesma situação quando tentava criar um imunizante contra o vírus da Aids.

O coletivo é liderado pela pesquisadora Susan Buchbinder, professora de uma universidade em São Francisco e dirigente de Pesquisa de Prevenção do HIV no Departamento de Saúde Pública da cidade americana. “Estamos preocupados de que o uso de um vetor Ad5 para imunização contra Sars-Cov-2 possa aumentar o risco de aquisição do HIV-1 entre as pessoas que recebem a vacina”, escreveram Susan e seus colegas em um estudo.

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Vacinas candidatas contra Covid-19 podem deixar organismo mais vulnerável ao HIV. Créditos: Solarseven/Shutterstock

Ainda segundo os pesquisadores, o componente perigoso estaria em quatro potenciais vacinas contra a doença que causou a pandemia. Uma destas doses já passou pela fase dois dos testes clínicos e está prestes a passar por um grande estudo de fase três na Rússia e Paquistão.

Adenovírus

O Ad5 é um tipo de vetor adenovírus. Isso significa que é ele quem leva as substâncias das vacina ao local certo do organismo e treina o sistema imunológico para reconhecer o Sars-Cov-2 como invasor. Normalmente, este vetor é inofensivo e causa apenas resfriados como reação da dose. Ele tem sido utilizado com sucesso em várias outras versões mortificadas, sem apresentar nenhuma evidência de aumento de risco de HIV.

Mas os cientistas apontam que foi justamente o adenovírus que causou problemas na vacina que estava sendo desenvolvida contra o HIV há 10 anos, e que quatro vacinas contra a Covid-19 que estão em fase testes utilizam também do vetor. Há uma década, os pesquisadores viram pessoas ficarem mais vulneráveis ao HIV depois de terem ido infectadas com Ad5.

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Tentativa de vacina contra o HIV há 10 anos demonstrou o mesmo problema com o adenovírus. Créditos: Jarun Ontakrai/Shutterstock

Apesar de os mecanismos por trás disso ainda não estarem claros, estudos de 2008 sugerem que o vetor fornece ao HIV mais células como alvo. Uma revisão realizada em 2014 pelo imunologista Anthony Fauci também recomendou cautela com o uso do Ad5.

As empresas que estão desenvolvendo as quatro doses disseram estar cientes da chance de enfraquecimento do organismo humano e afirmam ter silenciado geneticamente o vetor para evitar qualquer risco neste sentido. Mas Glenda Gray, chefe do Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul, e que trabalhou nas vacinas contra o HIV há 10 anos, afirmou que apenas evitar o vetor pode não ser o melhor caminho. “E se esta vacina for a vacina mais eficaz?” pergunta ela sugerindo que cada país deve ter permissão para tomar suas próprias decisões.

Cabe destacar que o estudo dos cientistas americanos vem justamente no momento em que vários países e empresas tentam desenvolver uma dose segura contra a Covid-19 e que todo o mundo espera ansiosamente por uma vacina.

Fonte: Science Alert