De acordo com um estudo publicado na Global Change Biology, as temperaturas noturnas estão aumentando muito mais rápido se comparadas com as registradas durante o dia na maioria dos países. Essa mudança pode influenciar muitas coisas em nosso ecossistema, desde a questão da caça de predadores até o crescimento das plantas.
“A mudança climática já está bagunçando as coisas. Mas a assimetria de 24 horas está adicionando uma dimensão extra de complexidade”, disse Daniel Cox, ecologista da Universidade de Exeter, na Inglaterra, e principal autor do estudo.
Análises anteriores descobriram que o aumento dos gases do efeito estufa da atmosfera não oferece um efeito uniforme nas temperaturas do dia e da noite. Mas Cox diz que este é o primeiro estudo em que as assimetrias de temperatura foram encontradas em diversos lugares.
Mudanças de temperatura noturna podem influenciar muitas coisas em nosso ecossistema, desde a questão da caça de predadores até o crescimento das plantas. Foto: Valentina Karavaeva/ Shutterstock
Sem compreender exatamente esses efeitos, os ecologistas não podem esperar entender totalmente como o mundo natural responderá. Experimentos com gafanhotos e aranhas, por exemplo, mostraram que a hora do dia que ocorre o aquecimento pode modificar o equilíbrio ecológico. Isso porque, quando esse aumento ocorre durante o dia, as aranhas procuram abrigo do sol, o que permite que os gafanhotos comam as plantas sem medo, afetando o crescimento desses vegetais.
No entanto, quando isso acontece durante a noite, as aranhas parecem caçar os gafanhotos com mais ferocidade, possivelmente reduzindo o número de insetos. Esses efeitos podem ser vistos em ecossistemas maiores, com impactos em comunidades de plantas, vida selvagem e agricultura.
Estudo noturno
A maioria dos estudos sobre o tema realizados até hoje procuram focar nas atividades diurnas dos organismos. É por esse motivo que Cox quis entender as assimetrias de temperatura como um todo. Revelar essas diferenças pode ser um incentivo para ver o que as atividades registradas no período da noite podem dizer sobre as mudanças climáticas.
Para descobrir isso, Cox e sua equipe mapearam 35 anos de dados sobre temperatura, cobertura de nuvens, umidade e precipitação. Para cada uma das regiões terrestres, eles observaram como a mudança do clima afetaria esses ecossistemas.
O que foi descoberto é que, a nível global, as noites esquentaram mais que os dias. Essas alterações parecem estar intimamente ligadas às mudanças na cobertura das nuvens. Em locais com maior concentração de nuvens, mais altas são as temperaturas noturnas.
Em regiões mais úmidas, o aquecimento faz com que a água evapore, criando mais nuvens – que esfriam durante o dia, bloqueando o sol. No entanto, durante à noite, elas prendem o calor perto do solo.
Agora, Cox comenta que a pesquisa permitirá que estudos sejam continuados para definir como os animais lidam com a mudança climática à noite. “Sabemos que o mundo está mudando por meio de influências humanas, mas não temos realmente uma ideia de como a noite está mudando. É um grande buraco na literatura que acabou passando despercebido”, finaliza.
Via: Popsci