Pesquisadores do Instituto de Ciências Marinhas da Virgínia (VIMS, sigla em inglês), nos Estados Unidos, descobriram que algas marinhas são importantes aliadas na restauração do clima do planeta. Após um estudo de monitoramento a longo prazo, realizado durante duas décadas, os cientistas comprovaram que as plantas do mar desempenham um papel importante na remoção de dióxido de carbono da atmosfera.
A constatação foi possível após a análise dos efeitos que vieram com a reintrodução dos vegetais marinhos nas baías costeiras do estado norte-americano da Virgínia. Nos últimos 20 anos, cientistas e voluntários plantaram, em quatro lagoas consideradas estéreis, mais de 70 milhões de sementes de algas estimulando uma expansão natural que até agora atingiu quase 9 mil acres (cerca de 36 mil km²), se tornando o maior habitat de algas entre a Carolina do Norte e Long Island.
Esta é a primeira vez que um estudo comprova que a restauração de um habitat de algas marinhas ajuda a combater as mudanças climáticas. Crédito: Ben Davies/Pixabay
Efeitos para o ecossistema
Os resultados incluem não apenas o aumento de peixes e invertebrados, mas uma melhora na clareza da água e na captura de carbono e nitrogênio causadores de poluição. Eles foram publicados em um artigo na revista científica Science Advances, escrito pelo Dr. Robert “JJ” Orth, junto com Mark Luckenbach, Ken Moore, Richard Snyder e David Wilcox, todos integrantes do VIMS. Além deles, o estudo contou com Jonathan Lefcheck, do Smithsonian’s Environmental Research Center, Karen McGlathery, Lillian Aoki e Matthew Oreska, da Universidade da Virgínia e Bo Lusk da The Nature Conservancy.
Entre os benefícios da restauração do ecossistema marinho está a remoção do dióxido de carbono, um dos principais causadores do efeito estufa, por meio do soterramento do composto químico nos sedimentos do fundo do mar. Esta é a primeira vez que um estudo comprova que a restauração de um habitat de algas marinhas pode ajudar a combater as mudanças climáticas.
A volta das algas
As algas da Virgínia desapareceram das baías costeiras na década de 1930, assoladas por doenças e por um furacão, levando com elas numerosos organismos e aves marinhas. A recuperação natural não foi possível pela falta de sementes dessas plantas, o que levou a equipe do doutor Orth a plantar sementes e mudas coletadas em outros lugares, em meados de 1999. As algas cresceram fortes o suficiente para amortecer as ondas e estabilizar os sedimentos do fundo do mar, limpando a água o bastante para a luz do sol atingi-las e permitir o crescimento contínuo e produção natural de sementes.
Durante os 21 anos do projeto, cientistas e voluntários gastaram mais de 3.500 horas recolhendo cerca de 10 milhões de sementes das baías costeiras que foram plantadas nas lagoas junto com mais de 60 milhões de sementes coletadas em 536 áreas de restauração, cobrindo assim cerca de 500 acres. A semeadura contínua ajudou as plantações de algas a sobreviver aos altos e baixos naturais vividos por qualquer ecossistema costeiro.
Outro fator que levou a retomada deste ecossistema marítimo foi a localização do projeto, que está dentro dos 40 mil acres da Reserva Costeira da Virgínia. O espaço é gerenciado pela The Nature Conservancy, está sob intenso estudo de pesquisadores desde 1987, funcionando como um local de Pesquisa Ecológica de Longo Prazo (LTER) administrado pela Universidade da Virgínia.
Fonte: Phys Org