No inverno, o gelo do Ártico se expande, à medida que as baixas temperaturas congelam as águas na região. Com temperaturas cada vez mais altas, as bolsas de gelo derretem e se juntam à água dos oceanos. Tem sido assim por milhões de anos.
Na era das mudanças climáticas causadas pela ação humana, esse ritual foi perturbado. A cobertura de gelo no Ártico está em declínio, recuando mais e expandindo menos a cada ano que passa. Apesar disso, o Ártico permanece congelado, mesmo no verão – por enquanto. Entretando, as previsões não são boas.
Uma nova análise de modelos climáticos prevê apenas mais algumas décadas para o Ártico perder por completo a sua cobertura de gelo durante o verão, algo que aconteceria antes da metade deste século – isso até mesmo no melhor dos cenários, nos quais reduzimos consideravelmente a quantidade de emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.
“Se reduzirmos as emissões globais rápida e substancialmente e, assim, mantivermos o aquecimento global abaixo de 2 °C em relação aos níveis pré-industriais, o gelo do Ártico provavelmente desaparecerá ocasionalmente no verão antes de 2050”, afirma Dirk Notz, geofísico polar da Universidade de Hamburgo, na Alemanha. “Isso realmente nos surpreendeu”.
Área de gelo marinho no final do verão do Ártico em 1979, à esquerda, em comparação com 2019.
Em sua pesquisa, Notz e sua equipe examinaram dezenas de modelos climáticos diferentes, simulando a evolução do gelo marinho do Ártico em diversos cenários futuros distintos.
Os modelos usados vêm da fase seis do projeto de intercomparação de modelos acoplados (CMIP6) e compreendem algumas das mais recentes gerações de modelos climáticos globais, abrangendo vários cenários hipotéticos diferentes. Tais cenários incluem tanto situações inalteradas quanto uma grande queda na emissão de gases do efeito estufa.
Em quase todas as simulações do CMIP6, o Oceano Ártico perde praticamente todo o seu gelo marinho (definido como a área de gelo marinho que cobre uma área inferior a um milhão de quilômetros quadrados). Independentemente do cenário hipotético, isso aconteceria antes de 2050.
Entretanto, mesmo que seja um resultado alarmante, os cientistas vêm prevendo há anos o fim do Ártico como conhecemos, especulando o que isso significaria para outros ecossistemas. Esse derretimento amplificará os efeitos do aquecimento global, já que menos gelo na superfície fará com que menos luz solar seja refletida de volta para o espaço. Com isso, nosso planeta ficará ainda mais quente.
Por outro lado, se focarmos no lado bom, uma redução acentuada nas emissões de CO2 poderia diminuir a frequência desses verões sem gelo no Ártico. Modelos e simulações podem prever muitas coisas, mas o que realmente importa é nossa atitude e o caminho que decidirmos seguir.
Via: Science Alert