Cientistas registram raro buraco na camada de ozônio sobre o Ártico

Um buraco na camada de ozônio se forma anualmente sobre a Antártica, mas o Ártico geralmente não tem as condições atmosféricas necessárias para que isso aconteça
Rafael Rigues30/03/2020 18h27

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Cientistas identificaram um fenômeno raro nos céus do Ártico: um buraco na camada de ozônio, o maior já registrado na região. E ele é quase tão grande quanto o que se forma anualmente sobre a Antártica.

O ozônio é uma molécula composta por três átomos de oxigênio (O3). Estas moléculas formam uma camada que envolve nosso planeta e nos protege da radiação ultravioleta do Sol, que em excesso pode causar queimaduras, câncer de pele ou cataratas.

Um buraco se forma anualmente sobre a Antártica durante a primavera no hemisfério sul, entre os meses de setembro e o início de dezembro, e desaparece quase que completamente durante o inverno. É causado pela interação da luz solar com partículas de CFCs (Clorofluorcarbonos), gases que eram largamente usados na produção de aerosóis e sistemas de refrigeração.

Embora sua produção e uso tenha sido banida por um acordo internacional em 1989, estes gases têm longa duração na atmosfera, o que junto com um mercado negro explica sua contínua interação com a camada de ozônio desde então.

O Ártico geralmente não tem as condições atmosféricas necessárias para a formação do tipo de nuvens de grande altitude que desencadeiam a reação com a camada de ozônio. Mas neste ano, poderosos ventos vindos do oeste prenderam ar frio sobre o ártico em um “vórtice polar”, permitindo que as nuvens se formassem e a reação que leva à destruição do ozônio ocorresse.

Pesquisadores que monitoram a camada de ozônio no Ártico com balões atmosféricos registraram uma queda de até 90% na quantidade de ozônio a 18 km de altura, bem no “coração” da camada. Em vez da concentração típica de 3,5 partes por milhão, em alguns locais mediram 0,3 partes por milhão.

Fenômenos similares já aconteceram em 1997 e 2011, mas neste ano a intensidade pode ser superior à do passado. “Temos uma perda pelo menos tão grande quanto em 2011, e há algumas indicações de que pode ser maior que 2011″, diz Gloria Manney, cientista atmosférica da NorthWest Research Associates em Socorro, Novo México.

O buraco não representa risco à saúde humana, já que está localizado sobre áreas de alta latitude que são pouco povoadas. E não deve durar muito: com o fim do inverno, e à medida que o sol sobe no horizonte no Ártico, a temperatura da atmosfera começa a subir. Isso leva à dissolução do vórtice e recuperação da camada de ozônio.

Fonte: Nature

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital