Três tipos do novo coronavírus já circularam na Amazônia, revela Fiocruz

Descoberta foi possível graças aos sequenciamentos de DNA e análises realizados pela fundação em amostras de pacientes infectados nos estados do Amazonas e de Rondônia
Fabiana Rolfini15/07/2020 20h16, atualizada em 15/07/2020 20h20

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De acordo com a Fiocruz, três linhagens diferentes do novo coronavírus circulam ou circularam na Amazônia desde a chegada do vírus no país. A descoberta foi possível graças aos sequenciamentos de DNA e análises realizados pela fundação em amostras de pacientes infectados nos estados do Amazonas e de Rondônia.

No Amazonas, foram examinados 37 genomas da capital, Manaus, e do interior do estado. Lá, foram encontrados os tipos A2, B1 e B1.1 do vírus. Já em Rondônia foram oito genomas estudados, que mostraram dois tipos B1 e B1.1 similares aos achados no Amazonas.

Uma das hipóteses levantadas para isso ter ocorrido é que o vírus tenha chegado primeiro no Amazonas, por conta da maior movimentação de turistas, e seguido de lá para outros estados da região.

O sequenciamento revelou que dois tipos de vírus diferentes chegaram a cidades pequenas do estado, como Manaquiri, com 33 mil habitantes. Até agora, não se sabe se algum tipo é mais grave que outro.

Reprodução

Linhagens A2, B1 e B1.1 do vírus foram encontradas no Amazonas. Foto: Reprodução

Importação da Europa

A análise dos genomas indica ainda que a Covid-19 deve ter sido “importada” de países da Europa, mas de locais diferentes.

Segundo o pesquisador da Fiocruz Amazônia e coordenador do estudo no Amazonas, Felipe Naveca, os vírus B1 e B1.1 têm maior circulação no Reino Unido, Estados Unidos e Austrália. O tipo A2, por sua vez, circulou basicamente na Espanha, Reino Unido e Austrália.

“Todos os tipos tiveram origem na Ásia como ancestral. Na verdade, mesmo sendo uma linhagem europeia, é possível que tenha vindo de outros locais. Nós estamos conduzindo essas análises mais refinadas agora no sentido de inferir a origem mais precisamente”, afirmou o pesquisador.

Coronavírus em Rondônia

No caso de Rondônia, foram achados dois tipos diferentes do coronavírus no estado – B1 e B1.1. Segundo Deusilene Vieira, pesquisadora em virologia molecular da Fiocruz Rondônia e coordenadora do estudo, todas pertencem ao grupo com uma assinatura genética relacionada às cepas que circularam nos epicentros na Europa e que se espalharam rapidamente por muitos lugares do mundo.

Uma das cepas virais encontradas tem descendência e ancestralidade que foi isolada em Zurique, na Suíça; e outra, em Portugal. “Isso não significa necessariamente que houve transmissão direta do epicentro na Europa para o estado. É possível que o vírus tenha passado em outras localidades no decorrer do tempo até chegar neste ponto”, pontuou.

Mutação D614G

Ao longo do genoma, também foram encontradas 22 mutações em relação ao primeiro vírus sequenciado na China. Destas, merece atenção a chamada de D614G, identificada em todas as amostras analisadas.

A mutação em questão pode estar associada com a alta propagação do vírus, principalmente em locais da Europa onde houve mais surtos se comparados a Wuhan, cidade chinesa com mais casos.

A pesquisa ainda está avaliando amostras de outros municípios com casos confirmados de Covid-19. A partir das respostas obtidas, será possível descobrir como o vírus foi introduzido na região, além de contribuir para formar ações de vigilância molecular de combate ao vírus e o controle da doença por meio da história evolutiva viral.

Os próximos passos do estudo da Fiocruz incluem saber não só a origem exata de cada linhagem do coronavírus, mas a data de chegada à região. Somado a este estudo, a Fiocruz do Amazonas e a mineradora Vale, por meio do Instituto Tecnológico Vale (ITV) de Belém (PA), se uniram para desenvolver o chamado Projeto Genoma Covid-19. O objetivo é fazer o sequenciamento de milhares de amostras do Sars-Cov-2 para entender melhor o comportamento desse vírus no Brasil.

Via: Uol

Fabiana Rolfini é editor(a) no Olhar Digital