Covid-19 pode afetar lobo frontal e comprometer funções cerebrais

Análise de eletroencefalogramas de pacientes americanos acometidos pelo novo coronavírus indicou que doença afeta o lobo frontal e pode acarretar confusões e outros problemas
Redação29/10/2020 21h03, atualizada em 29/10/2020 21h31

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Pesquisadores da Faculdade de Medicina Baylor (EUA) publicaram um estudo no Seizure: European Journal of Epilepsy sobre como a Covid-19 perturba padrões da função cerebral normal, que podem ser medidos por um EEG (eletroencefalograma).

Um EEG registra a atividade elétrica em diferentes partes do cérebro humano usando eletrodos colocados em seu couro cabeludo.

Os cientistas reuniram dados de cerca de 620 pacientes com a doença e fizeram parte de 84 estudos publicados em periódicos. Essas pesquisas continham informações em forma de ondas, provenientes dos eletroencefalogramas a que foram submetidas parte dessas pessoas.

Dessa forma, foi possível analisar se os resultados do EEG indicaram alguma forma de encefalopatia relacionada à Covid-19 nesses pacientes, como sinais de comprometimento ou perturbação da função cerebral. Aproximadamente dois terços dos pacientes nos estudos eram do sexo masculino e a média de idade era de 61 anos.

No entanto, é importante ressaltar que algumas pessoas também tinham uma condição preexistente, como a demência, que poderia alterar uma leitura de EEG, que os pesquisadores consideraram ao avaliar seus resultados de teste.

Covid-19 pode afetar o lobo frontal

Do total de pacientes analisados, 420 tiveram necessidade de passar por um EEG e o motivo mais comum foi um estado mental alterado: cerca de dois terços experimentaram algum delírio, coma ou confusão.

Cerca de 30% tiveram um evento semelhante a uma convulsão, o que levou o médico responsável pelo tratamento a pedir um eletroencefalograma, enquanto um punhado de pacientes tinha problemas de fala. Outros sofreram uma parada cardíaca súbita, que poderia ter interrompido o fluxo sanguíneo para o cérebro.

Os exames de EEG dos pacientes mostraram todo um espectro de anormalidades na atividade cerebral, incluindo alguns padrões rítmicos e picos epilépticos na atividade. A anormalidade mais comum observada foi a desaceleração difusa, que é uma desaceleração geral das ondas cerebrais que indica uma disfunção geral na atividade cerebral.

No caso da Covid-19, esse prejuízo pode ser resultado de uma inflamação generalizada, já que o corpo aumenta sua resposta imune ou, possivelmente, reduz o fluxo sanguíneo para o cérebro, se o coração e os pulmões estiverem fracos.

Baburov/Reprodução

Os dados mais comuns do EEG foram a desaceleração ou a descarga elétrica anormal, principalmente no lobo frontal. Imagem: Baburov/Reprodução

“Anormalidades do EEG que afetam o lobo frontal parecem ser comuns na encefalopatia causada pela Covid-19 e têm sido propostas como um potencial biomarcador, se forem registradas de forma consistente”, escreveram os autores no artigo.

Quanto aos efeitos localizados, um terço de todas as anormalidades detectadas foram encontradas no lobo frontal, a parte do cérebro que lida com tarefas de pensamento executivo, como raciocínio lógico e tomada de decisão. O lobo frontal também nos ajuda a regular nossas emoções, controlar nosso comportamento e está envolvido no aprendizado e na atenção.

“Essas descobertas nos dizem que precisamos experimentar o EEG em uma gama mais ampla de pacientes, bem como outros tipos de exames cerebrais, como ressonância magnética ou tomografia computadorizada, que proporcionam uma visão mais detalhada do lobo frontal”, explicou o neurologista e coautor Zulfi Haneef, da Faculdade de Medicina Baylor, em Houston (EUA).

Pacientes curados ainda enfrentam sequelas

Com o tempo, um EEG poderia ajudar a determinar um diagnóstico de Covid-19 ou sugerir possíveis complicações. Isso pode ajudar médicos a monitorarem as complicações a longo prazo da doença e a detectar quaisquer efeitos duradouros na função cerebral de um paciente.

Infelizmente, do jeito que estão, os resultados não indicam quão raros ou comuns são esses distúrbios de ondas cerebrais na população mais ampla, uma vez que apenas pacientes com o novo coronavírus e que fizeram um teste de eletroencefalograma foram incluídos na análise. Mas isso aumenta a evidência de que a doença pode ter um sério impacto em nossa saúde neurológica.

À medida que a pandemia se estende, chegamos a entender o quão teimosa a Covid-19 pode ser, com pacientes que ainda se sentem cansados meses depois de serem diagnosticados.

“Muitas pessoas pensam que vão pegar a doença, ficar bem e tudo voltará ao normal. Mas essas descobertas nos dizem que pode haver problemas de longo prazo, o que é algo que suspeitamos e agora estamos encontrando mais evidências para apoiar nossas suposições”, explicou Haneef.

Fonte: Science Alert

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital