Como a ciência sabe que o coronavírus não foi criado em laboratório

Há quem teorize que o SARS-CoV-2 foi fabricado artificialmente como uma arma biológica
Redação20/04/2020 19h05, atualizada em 20/04/2020 19h20

20200406104245

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Mesmo após meses de pandemia, a origem do novo coronavírus (SARS-CoV-2) ainda é motivo para polêmicas. A ideia mais aceita é que o vírus tenha surgido em animais silvestres e se disseminado a partir de mercados da cidade de Wuhan, na China. Contudo, uma teoria alimentada pelas tensões globais afirma que a doença foi desenvolvida propositalmente em laboratório para ser uma arma biológica. Isso seria possível?

A resposta, de acordo com estudos da comunidade científica, é que nada leva a crer que a Covid-19 seja artificial. Se alguém quiser infectar humanos de propósito com um novo vírus, essa pessoa não será capaz de começar do zero, visto que não é possível projetar um organismo.

Portanto, é preciso escolher um vírus já existente e modificá-lo para que ele possa adentrar células humanas e se tornar mortal. Tais alterações deixariam marcas bem específicas no RNA do vírus, diferentemente das mutações orgânicas causadas pela evolução natural.

No SARS-CoV-2, por exemplo, a proteína mais óbvia a ser modificada é a que dá ao vírus o aspecto de coroa (daí o nome). Chamada de “spike”, a proteína em questão se projeta para fora do organismo para reconhecer a ACE2, uma proteína das células humanas que trabalha para regular a pressão sanguínea. Ao se conectar com a ACE2, o novo coronavírus adentra a célula e adoece o infectado.

Reprodução

Se a spike fosse o resultado de uma modificação artificial, os cientistas poderiam detectá-la. No entanto, um estudo de 2015, conduzido pelo Laboratório de Virologia de Wuhan, já havia mostrado que uma nova versão da proteína – essa capaz de invadir células humanas – estava circulando em coronavírus de morcegos.

Após o estopim da pandemia, um artigo controverso foi publicado na bioRxiv, plataforma que permite a publicação de estudos sem revisão, especialmente em momentos de urgência como agora. Segundo a pesquisa, foram encontrados quatro trechos mal explicados no RNA da spike do SARS-CoV-2. A informação causou alvoroço na comunidade científica, mas logo foi desmentida por diversos outros profissionais da área.

Concluiu-se, então, que o novo coronavírus é decididamente orgânico, afinal, possui muitas características jamais vistas e inexplicáveis. Um vírus artificial se pareceria muito mais com outros já conhecidos.

Origem da pandemia do coronavírus

O que se sabe até então é que a pandemia se originou de uma única cepa do SARS-CoV-2, a qual nunca foi encontrada na natureza em sua forma atual. Isso gera duas possibilidades: ou o novo coronavírus se desenvolveu até seu estado atual em animais silvestres e assim que encontrou seres humanos se alastrou rapidamente, ou chegou aos seres humanos em um estado mais primitivo e ali encontrou um ambiente propício para sua evolução. Há, também, a crença em um hospedeiro intermediário.

A distinção é importante porque impacta diretamente na prevenção. Se o SARS-CoV-2 foi completamente desenvolvido entre os animais silvestres, é preciso atenção para que novas infecções não ocorram no futuro, mesmo após o controle da Covid-19.

É claro que ainda há muito trabalho pela frente para frear a Covid-19, mas fica o alerta: é importante que não se tome conclusões precipitadas acerca de pesquisas científicas não revisadas, pois as consequências podem ser seriamente prejudiciais, inclusive na busca pela cura.

Via: Uol

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital