Após 10 semanas de confinamento, habitantes de Wuhan, na China, foram liberados para deixar a cidade a partir desta quarta-feira (8). Considerado o primeiro epicentro da pandemia do novo coronavírus, a capital da província de Hubei contabiliza mais de 55 mil casos confirmados e 2,5 mil vítimas fatais da doença.

O fim do isolamento acontece em meio a notícias que validam a queda do contágio na comunidade chinesa. Apenas três novos casos de Covid-19 foram confirmados em Wuhan nas últimas três semanas. Nesta terça-feira (7), pela primeira vez desde janeiro, a China registrou nenhuma ocorrência de morte provocada pela pandemia.

Desde o fim de março, habitantes podem ir às ruas. Porém, é necessário apresentar um relatório de um aplicativo de smartphone desenvolvido pelo governo, o qual avalia se a pessoa apresenta riscos de contágio. O programa leva em consideração dados de endereço, viagens recentes e despachos médicos.

O cuidado das autoridades coincidem com o retrato de uma cidade com temor de uma nova onda de contágio, habitantes marcados pela perda de amigos e parentes, assim como uma economia repleta de incertezas. A normalidade ainda é um sonho distante, diz uma reportagem especial do The New York Times.

Restrições voluntárias

Segundo o jornal norte-americano, assim que a quarentena foi encerrada à meia-noite de quarta-feira no horário local, estações de pedágios acumularam veículos de cidadãos que tentavam deixar a cidade. A agência nacional de transporte ferroviário da China estima que pelo menos 55 mil pessoas devem sair de Wuhan de trem até o fim do dia.

Para os habitantes que decidiram ficar, as regras de prevenção ao vírus permanecem latentes, tanto em nível individual, como coletivo. Membros do governo ainda orientam que todos os cidadãos fiquem em casa o máximo possível. As escolas ainda permanecem fechadas.

O medo da doença faz com que muitos dos habitantes acolham o isolamento voluntariamente. “Seus amigos ficaram doentes. Amigos e parentes de seus amigos morreram. Tudo em frente aos seus olhos. Um por um, eles nos deixaram”, disse Yan Hui, um cidadão de Wuhan, ao The New York Times. 

Retomada

Por outro lado, nas últimas semanas, parte do comércio já começou a abrir as portas e famílias passaram a ocupar parques em busca de ar fresco. Aos poucos os idosos parecem voltar a se reunir em pequenos grupos para conversar e jogar jogos de tabuleiros. Sistemas de transporte público foram reativados, mesmo ainda com poucos frequentadores.

O comportamento de compras online também mudou: os usuários deixaram de restringir as aquisições a insumos diários e já procuram roupas, cosméticos e acessórios.

A volta ao trabalho, no entanto, é cuidadosa. As companhias convocam os funcionários aos poucos. Isso porque mais de 94% dos negócios tiveram que fechar as portas durante a quarentena. O impacto foi ainda maior no setor industrial, em que o índice ultrapassou 97%. A Honda, empresa de automóveis, deve voltar a produzir em capacidade máxima em breve. A gigante de tecnologia Huawei afirmou em rede sociais que os funcionários estão voltando ávidos aos trabalho.

Segundo o The New York Times, a situação do mercado, no entanto, ainda não é clara. As demandas por exportações caíram devido ao quadro ativo da pandemia em outros países. Os efeitos da crise fizeram empresas abandonarem projetos e investimentos. “O mundo inteiro está em um mau estado e até que chegue o futuro, ninguém tem muita confiança”, disse uma arquiteta chinesa entrevistada pelo jornal.

Para os pequenos negócios a incerteza parece ainda maior. As perdas no faturamento levou à demissão de muitos dos trabalhadores, que mesmo com o fim da quarentena não devem ser recolocados tão cedo. Outros empresários de Wuhan estão preocupados com despesas fixas de equipamentos e aluguéis.  

O governo chinês chegou a disponibilizar um plano de recuperação para pequenas empresas, mas fontes ouvidas pelo The New York Times apontam que as medidas talvez não sejam suficientes para garantir a retomada dos negócios.