Lorian Syrano, membro do grupo Anonymous, conhecido por ataques cibernéticos a instituições públicas e privadas, divulgou 400 documentos do governo da Nicarágua que podem desmentir números relacionados à pandemia no país. O anúncio foi realizado via Twitter no último dia 21 de julho e causou comoção entre os nicaraguenses. O governo local já levantava suspeitas em todo o mundo sobre os dados que divulgava à população desde o início da contaminação pela doença no país.
De acordo com os relatórios vazados, o número de moradores infectados na Nicarágua em maio deste ano era de 1.332. Na época, o governo disse que este dado era de apenas 16 casos positivos, o que resulta em uma diferença de 98,80% da situação real. No mês seguinte, o número de 6.245 doentes com Covid-19 não foi informado.
#Anonymous #OpNicaragua #SOSNicaragua #Nicaragua
The Nicaraguan ministry of health (MINSA) has been hacked! Tons of private data, documents and the whole database leaked! The government lies will not remain secret anymore.
Download —> https://t.co/e5knY4mw0y
*Read post below pic.twitter.com/SSxTWK9Qll
— Lorian Synaro ðŸÂ€ (@LorianSynaro) August 21, 2020
Ainda segundo os documentos, a taxa de casos positivos por testes no país é uma das mais altas do mundo, sendo 56%. Sobre isso, o ex-diretor de epidemiologia do Ministério da Saúde, Álvaro Ramírez, atribuiu a grande taxa ao fato de os testes serem realizados principalmente em nicaraguenses hospitalizados ou que já apresentavam sintomas.
Ramírez também disse que os dados externados pelo Anonymous deixa clara a intenção do governo de realmente esconder a verdadeira situação, pois os números reais chegavam à presidência do país todos os dias, mas as autoridades preferiram mentir.
Assim como todo o mundo, Nicarágua sofre com as consequências da Covid-19, mas governo local insiste em maquiar dados da doença no país. Créditos: Au_uhoo / Shutterstock
No tuíte, o membro da comunidade anônima, Lorian Syrano, afirma que “as mentiras do governo não permanecerão mais em segredo” e disponibiliza o link para download dos arquivos. O Ministério da Saúde da Nicarágua foi atacado pelo grupo no dia 17 de agosto.
Não é a primeira vez que Syrano toma atitudes contrárias ao governo do país. Em abril deste ano, já contra o descaso no combate à Covid-19, ele atacou o Banco Central da Nicarágua, bem como canais estatais, da Polícia Nacional, etc. O fato nunca foi noticiado à população.
Omissão de informações?
O governo da Nicarágua tem sido apontado desde o início das infecções por Covid-19 no país como opaco por sua falta de transparência. As autoridades, inclusive, se recusam a introduzir bloqueios efetivos para evitar que a doença se dissemine entre os moradores. Com o passar dos meses, as suspeitas diante da precisão dos dados que eram divulgados pelo Executivo foram crescendo.
Exemplo disso foi que um grupo de cidadãos voluntários, formado por médicos, pesquisadores, engenheiros, cientistas e comunicadores, relatou que o número de óbitos confirmados pela doença na Nicarágua era na verdade 20 vezes maior que as informações compartilhadas pelo governo Nicaraguense.
O presidente Daniel Ortega e sua esposa e vice-presidente, Rosario Murillo, afirmaram em maio que a população não sofrida de Covid-19, mas sim de pneumonia. No referido mês e nos seguintes, apareceram e se multiplicaram histórias de supostos aterros escondidos no país.
É por estas e outras que o Anonymous se refere ao governo nicaraguense como “ditatorial”. A mesma expressão é utilizada também por comentaristas e meios de comunicação do país por conta de ações do Executivo que demonstram traços ditatoriais, censura e corrupção.
Mas as acusações contra as autoridades da Nicarágua não param por aí: o Grupo Interdisciplinar de Peritos Independentes afirma que Ortega cometeu crimes contra a humanidade contra opositores políticos durante protestos antigoverno em 2018. No mesmo ano, o Anonymous entrou em cena novamente, derrubando sites de mídia controlados pelo governo e até pela polícia do país.
Protestos antigoverno em 2018 tomaram as ruas da Niacarágua. Créditos: Will Ulmos / Shutterstock
Via: Global Voices Advox