EUA autorizam o uso de plasma convalescente para tratar a Covid-19

Aprovação foi concedida em 'caráter emergencial', mesmo sem comprovação científica definitiva; decisão atende aos interesses do presidente Donald Trump
Davi Medeiros24/08/2020 20h22, atualizada em 24/08/2020 21h40

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A Food and Drug Administration (FDA), agência federal dos Estados Unidos responsável por proteger a saúde pública, autorizou o uso de plasma no tratamento da Covid-19. A decisão vai de encontro à posição adotada anteriormente pela mesma agência, que havia proibido o uso da terapia até que fossem apresentadas evidências consistentes sobre sua eficácia.

A autorização foi concedida em “caráter emergencial” no último domingo (23). De acordo com a agência, terapias emergenciais podem ser administradas de forma experimental pelos médicos na ausência de tratamentos alternativos disponíveis.

Até então, os pacientes só podiam ser tratados com plasma sob a condição de ensaios clínicos randomizados (ECR). Os tratamentos conduzidos sob ECR são posteriormente transformados em dados para avaliação científica.

De agora em diante, os médicos podem usar o julgamento clínico para prescrever plasma sem que os pacientes estejam inscritos em ECR. Se, por um lado, isso agiliza o processo, por outro pode ocasionar riscos à saúde dos indivíduos infectados, uma vez que o tratamento não tem comprovação científica.

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Bolsa de plasma convalescente para tratamento da Covid-19. Imagem: Andreia Copini

Esse tipo de terapia utiliza os anticorpos presentes no plasma de pessoas curadas da Covid-19 para combater a doença no organismo de terceiros. Até o momento, a quantidade de ensaios clínicos conduzidos com pacientes do novo coronavírus foi muito pequena para chegar a conclusões definitivas sobre os efeitos do tratamento.

Motivações políticas

A decisão da FDA atende aos interesses do presidente Donald Trump, que é um defensor ferrenho do plasma convalescente. Durante uma entrevista coletiva realizada no domingo, o chefe do Executivo disse que a terapia apresentou “algumas respostas incríveis”, e que os Estados Unidos “não podem se atrasar”.

No Twitter, o presidente insinuou que a lentidão para que o tratamento seja aprovado tem motivações eleitorais, já que, supostamente, o sucesso do plasma poderia fortalecer a sua campanha de reeleição.

“Estão dificultando os testes com vacinas e terapias na esperança de atrasá-los até o dia 3 de novembro [data da eleição]”, escreveu Trump. “Devemos focar na velocidade e em salvar vidas”.

Apesar da empolgação do presidente, a comunidade científica norte-americana alerta que os estudos envolvendo plasma convalescente não foram revisados e não incluíram grupos de controle, isto é, os resultados não foram comparados com os de pacientes que receberam o tratamento padrão.

Além disso, cientistas demonstram preocupação de que não haja plasma o suficiente para suprir a demanda caso a terapia se popularize de forma precoce, sem planejamento. Quanto a isso, a administração Trump anunciou que investirá US$ 8 milhões numa campanha publicitária para incentivar os pacientes recuperados da Covid-19 a doarem plasma.

Via: Live Science

Colaboração para o Olhar Digital

Davi Medeiros é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital