Pesquisadores em Wuhan, na China, encontraram uma proteína característica do novo coronavírus no tecido ocular de uma paciente supostamente recuperada da Covid-19. O relato do caso foi publicado na última quinta-feira (8) na revista médica Jama Ophthalmology.
Em 31 de janeiro, uma mulher de 64 anos se dirigiu ao hospital apresentando tosse seca e diarreia. O teste para Covid-19 deu positivo, e ela passou 18 dias internada sem desenvolver sintomas graves da doença.
A paciente recebeu alta no dia 20 de fevereiro, depois de ter sua recuperação atestada por um teste do tipo RT-PCR. Oito dias depois, porém, ela passou a sentir fortes dores e apresentar perda de visão em ambos os olhos.
Na ocasião, testes realizados em uma clínica de oftalmologia revelaram que a pressão de seu humor aquoso (fluido ocular) chegava a 50 mmHg, considerado um nível perigosamente alto – o ideal é não passar de 22 mmHg.
Os médicos a diagnosticaram com glaucoma agudo de ângulo fechado, condição caracterizada pelo aumento repentino da pressão ocular devido à má circulação do fluido. O problema persistiu mesmo com medicamentos, e a mulher teve de passar por duas cirurgias nos olhos, durante as quais foram retiradas amostras de seu tecido conjuntivo.
Desdobramentos do caso
Mais tarde, testes em laboratório encontraram o antígeno da proteína N (nucleocapsídeo) específico do Sars-Cov-2 na amostra. Esta proteína é a estrutura fundamental do vírus, e estava presente de modo intracelular (dentro das células) do tecido.
Os resultados, então, foram comparados aos de um paciente controle, que havia passado recentemente pelas mesmas cirurgias que a mulher e nunca foi diagnosticado com Covid-19. Nele, a proteína não foi encontrada.
Proteína do Sars-Cov-2 foi encontrada em tecido ocular de paciente chinesa. Imagem: Jama Ophthalmology
De acordo com os autores do estudo, este caso sugere que o novo coronavírus pode infectar outros órgãos, incluindo o olho, além dos que pertencem ao sistema respiratório. Eles frisam, contudo, que o quadro da paciente chinesa é raro.
Por fim, vale uma breve observação. O Olhar Digital tem noticiado casos de danos causados pelo novo coronavírus ao cérebro e outros órgãos. Especialistas apontam que essas condições são causadas pela chamada “tempestade inflamatória”, que é uma resposta exageradamente intensa do organismo ao patógeno e pode levar à morte.
O caso desta paciente chinesa, contudo, é diferente. O que ocorreu em seus olhos não se trata de uma inflamação, mas da presença comprovada de uma proteína do vírus.
“O antígeno viral detectado no olho da paciente dois meses após a infecção deve levar a investigações futuras”, concluem os pesquisadores.
O objetivo, segundo eles, é determinar se os antígenos virais que permaneceram no olho ao longo do tempo podem causar danos à estrutura ocular, se indicam a presença de resquícios ativos do vírus em outros órgãos e se são infecciosos.
Via: AJMC