Exibida pela HBO, a série “Years and Years” retrata o futuro a partir da perspectiva da familia Lyons, formada por quatro irmãos, avó e agregados. Nela, diferentes gerações interagem com a tecnologia em 2034: crianças usam hologramas de emoji no rosto, adolescentes implantam dispositivos no corpo e adultos recorrem a robôs para sexo.
A série parece retratar um futuro distante e assustador, mas a verdade é que estamos mais perto dessa realidade do que imaginamos. O Estadão publicou uma reportagem sobre a produção e a embasou com a opinião de especialistas.
Walter Carnielli, professor do Centro de Lógica da Unicamp, fez a constatação mais marcante: “Nada é impossível. Se alguém da raça humana pensou em algo, alguém da raça humana pode executá-lo”. Veja, a seguir, quão realistas são — ou podem ser — as situações retratadas em “Years and Years”.
O homem e a máquina
As máquinas são de extrema importância para os seres humanos. Basta olhar para o passado e perceber como a produção industrial evoluiu depois da criação da máquina a vapor. Ao longo do tempo, entretanto, essa relação ficou cada vez mais íntima — a ponto de ser difícil lembrar de como era a vida sem os gadgets. “Years and Years” prevê o agravamento desse quadro de dependência.
A série mostra a conversa de uma garota de 15 anos com os pais. O assunto? Ser trans. Não transgênera, mas transumana: a personagem quer implantar um celular no dedo para estar sempre conectada. Absurdo? Segundo Carnielli, não. Ele explica que essa pode ser uma opção viável no futuro. “Temos energia elétrica no corpo. Por que não usá-la em nanochips ligados aos batimentos cardíacos, ao cérebro ou aos dedos?”
A pergunta que fica, realmente, é por que não? Existem relatos recentes de indivíduos que implantaram chips de rádio frequência, bem como imãs e luzes no corpo. Então, instalar um celular no dedo não seria uma completa loucura.
Carros autônomos
Não é preciso pesquisar muito para saber o quão populares são os carros autônomos atualmente. Grandes empresas, como Tesla, Waymo (da Alphabet) e Ford, investem mihões neles. Embora ainda haja grandes controvérsias em relação à sua regulamentação, a tecnologia já está aí para ser desenvolvida.
Comida com bactérias
Uma das cenas de “Years and Years” mostra um risoto produzido por bactérias. Já existem comidas feitas articialmente e biotecnologicamente, o que faz essa ideia parecer bastante viável. A grande dúvida é sobre a percepção humana da atividade de comer. Quem estaria disposto a abandonar sabores e aparências em troca de praticidade?
Cremação líquida
Existem empresas nos EUA que já têm tecnologia para fazer a hidrólise alcalina dos corpos, nome técnico para a cremação líquida mostrada na série da HBO. Basicamente, ela utiliza água e hidróxido de potássio para reduzir o indivíduo a apenas ossos, que são transformados em pó e entregues à familia. O processo custa cerca de R$ 10 mil em empresas americanas.
Além disso, outras formas bem futuristas de lidar com corpos já estão disponíveis. Um exemplo são as startups que congelam cabeças para ressuscitar os indivíduos no futuro.
Sexo e amor com robôs
Parece inevitável que o uso excessivo de tecnologia e a humanização dos robôs façam os cidadãos se sentirem parecidos com as máquinas. E quando eles identificam robôs como iguais ou semelhantes, amor e sexo podem surgir. “Years and Years” brinca com essa possibilidade, mas não deixa de mostrar que, mesmo em 2034, esse tipo de relacionamento ainda é visto como bizarro. Robofobia?
Previsões médicas
Pode ser que, no futuro, o diagnóstico de doenças seja feito pela internet a partir do escaneamento da íris, como ocorre em “Years and Years”. Atualmente, a medicina já está bastante avançada na identificação e na previsão de doenças. A inteligência artificial (IA) da IBM, por exemplo, consegue prever câncer de mama, enquanto a do Google identifica tumores com 99,9% de precisão.
O Estadão conversou com Antonio Mugica, da Smartmatic, que afirma que o escaneamento de íris da série é uma tecnologia que já está em desenvolvimento. Além disso, pode ser possível que um simples exame de sangue traga estampada a expectativa de vida do paciente.
Identificação por sopro
Embora interessante e possível, os especialistas acreditam que não será necessário implantar a identificação por sopro, já que o reconhecimento facial está cada vez mais avançado. “Difícil imaginar que a identificação por sopro seria mais conveniente, mas ela ainda pode ser usada para diagnosticar doenças, por exemplo”, diz Mugica.
Levando em conta as críticas enfrentadas pelo reconhecimento facial e a consequente proibição de seu uso em algumas cidades, a identificação por sopro pode ser uma alternativa livre de preconceitos de gênero e cor.
Fonte: Estadão