Pela primeira vez, a Nasa registrou um asteroide em processo de desintegração. O evento de ejeção de pedaços de rochas foi observado por meio da espaçonave OSIRIS-REx, enviada ao espaço para acompanhar o asteroide Bennu. Uma série de artigos sobre o caso foi publicada no Journal of Geophysical Research: Planets, na quarta-feira (9).
A suspeita de que Bennu estava se desintegrando se deu quando Carl Hergenrother, cientista planetário da Universidade do Arizona, observava as imagens coletadas pela OSIRIS-REx e percebeu particularidades em algumas delas. Ou seja, a trilha de Bennu foi descoberta quase que por acidente enquanto o pesquisador analisava as constelações que o asteroide usa para se orientar.
Our @OSIRISREx spacecraft is orbiting asteroid Bennu, where it’s set to capture a sample on Oct. 20. The mission has provided planetary scientists with the first-ever opportunity to observe, at close range, the asteroid shedding particles into space: https://t.co/t1evMRKHIB pic.twitter.com/F9Ab2Tqkxf
— NASA (@NASA) September 9, 2020
Segundo Hergenrother, o que chamou atenção foi um possível grupo de estrelas que não estava ali antes. “Eu estava olhando para os padrões de estrelas nessas imagens e pensei, ‘huh, não me lembro daquele aglomerado de estrelas’. Eu só percebi porque havia 200 pontos de luz onde deviam ter cerca de 10 estrelas. Fora isso, parecia ser apenas uma parte densa do céu”, explicou.
Depois de uma análise mais aprofundada, descobriu-se que, na verdade, não se tratavam de estrelas, mas sim de uma nuvem de minúsculas partículas que foram ejetadas da superfície de Bennu. Carl Hergenrother ressalta que esta percepção é fundamental para estudos mais aprofundados não só sobre Bennu, mas também sobre o comportamento de todos os asteroides ativos.
Rota das partículas
Sobre o caminho que estas partículas fazem depois de ejetadas, deve ser levado em conta o tamanho delas. A OSIRIS-REx observou que a maioria dos materiais que passaram pelo processo de ejeção do asteroide possuem cerca de seis centímetros (duas polegadas) em diâmetro. Por conta do pequeno tamanho, a maioria das partículas faz uma curva na órbita de Bennu e cai novamente em sua superfície.
Justamente por este fato, os cientistas consideram que OSIRIS-REx ainda está segura, não apresentando chances em ser atingida por uma destas ejeções. Segundo Hergenrother, mesmo que uma chuva de partículas atingisse a espaçonave, o tamanho e peso das rochas não trazem perigo à integridade do equipamento.
Os autores da pesquisa observaram em média uma a duas partículas disparadas por dia desde a chegada da OSIRIS-REx em Bennu em 2019, com grande parte do material caindo de volta no asteroide. Pela quantidade mínima de rochas desprendidas, pode-se considerar os eventos insignificantes para perda de tamanho de Bennu.
A primeira observação de partículas saindo da superfície do asteroide foi feita em janeiro do ano passado, poucos dias depois que a espaçonave chegou a Bennu. “Para se ter ideia, todas as 200 partículas que observamos durante o primeiro evento após a chegada caberiam em um ladrilho de 10 x 10 cm”, disse Hergenrother.
Espaçonave OSIRIS-REx foi enviada justamente para registrar e acompanhar ações e rotas do asteroide Bennu. Créditos: Raymond Cassel/Shutterstock
Hipóteses para a desintegração
Mas qual a explicação para a ejeção de partículas por parte do asteroide? Os cientistas levantaram três hipóteses, as quais duas são as prováveis. A primeira suspeita é de que o vapor de água liberado por Bennu poderia estar fazendo com que suas rochas fossem desprendidas de seu corpo.
A segunda hipótese é que impactos em pequenas rochas espaciais, inclusive conhecidas como meoteoróides, seriam as responsáveis pela desintegração. Já a terceira possível explicação seria o fator estresse térmico. Os dois últimos mecanismos foram considerados os mais prováveis pelos cientistas se considerado o ambiente de Bennu.
Enquanto o asteroide se revela à equipe de cientistas, e a OSIRIS-REx observa muitos outros eventos no espaço, os resultados das pesquisas são esmiuçados e aplicados, quem sabe, em futuras missões planetárias.