Uma nova técnica, desenvolvida inicialmente para tentar detectar energia escura, ajudou astrônomos a encontrar e catalogar mais de 300 objetos menores do Sistema Solar para além da órbita de Netuno – dos quais 139 são totalmente novos. O monitoramento da órbita desses objetos, que estão entre asteroides e planetas anões, ajudar na busca pelo misterioso Planeta Nove, que ficaria mais longe do que Plutão.
A descoberta veio a reboque da Dark Energy Survey, uma pesquisa que usa infravermelho para encontrar padrões de estrutura cósmica que ajudem a revelar a natureza da energia escura que está acelerando a expansão do Universo. O projeto acabou em 2019, mas seus cinco anos e meio de dados coletados também estão auxiliando em outras pesquisas, como a que encontrou os objetos transnetunianos.
A uma distância de cerca de 4,5 bilhões de quilômetros do Sol, ou 30 Unidades Astronômicas (30 vezes a distância entre a Terra e o Sol), depois da órbita de Netuno, está localizado o Cinturão de Kuiper, uma área 20 vezes mais larga e até 200 vezes mais massiva do que o cinturão de asteroides que temos entre Marte e Júpiter. São milhares de asteroides, cometas e planetas anões, muito difíceis de serem localizados pela falta de iluminação solar.
“Não podemos confundir esses objetos com planetas de verdade”, explica o astrônomo Marcelo Zurita é presidente da Associação Paraibana de Astronomia. “Um planeta anão, como é o caso de Plutão, é grande o suficiente para ser esférico mas não tem órbita circular, ou não conseguiu limpar completamente sua órbita. Asteroides não possuem forma esférica e cometas possuem composição de materiais voláteis, que quando entram no Sistema Solar interno apresentam uma cauda, formada pelos ventos solares”, completa.
Porém, esse objetos menores – que os novos 139 descobertos se juntam a um catálogo de mais de três mil – que podem nos dar pistas da órbita do Planeta Nove, um possível planeta que fica além de Plutão, mas que é grande o suficiente para influenciar a órbita desses objetos transnetunianos. “Na prática, o Planeta Nove não foi descoberto, mas é estimado que ele exista. Essa especulação surgiu justamente ao se estudar os objetos transnetunianos”, conta Zurita.
De acordo com o astrônomo, muitos objetos na região (entre 30 e 90 Unidades Astronômicas) possuem uma coincidência de órbita muito grande, que só seria explicada pela perturbação de um objeto muito maior passando pela região. “Identificar e monitorar esses objetos, e verificar essa coincidência, pode tanto fortalecer a hipótese do Planeta Nova quando nos ajudar a estimar sua órbita. Por outro lado, se esses objetos não apresentarem a mesma semelhança, pode ajudar a descartar a teoria”, completa.Para descobrir mais objetos transnetunianos utilizando os dados da Dark Energy Survey, os pesquisadores começaram isolando 7 bilhões de pontos que poderiam ser possíveis detecções. Em seguida, a equipe excluiu objetos que estavam no mesmo local em várias noites, indicando que não estavam se movendo. O próximo passo foi identificar objetos agrupados, descobrir como eles estavam se movendo. Todas essas etapas resultaram em uma lista de cerca de 400 candidatos que apareceram por pelo menos seis noites e precisaram ser verificadas.
Depois de muito trabalho, equipe identificou 316 objetos, 139 dos quais nunca foram publicados. Sete deles possuem distâncias orbitais extremas, maiores do que 150 unidades astronômicas, que se confirmadas colocam eles entre os objetos mais distantes do Sistema Solar já registrados. A pesquisa foi publicada no Astrophysical Journal Supplement.
Via: Science Alert