Cientistas da Universidade de Harvard concluíram que a ausência de água na superfície de planetas como a Lua e Marte não quer dizer, necessariamente, que não haja vida nestes locais. Por meio de um estudo, que também analisou questões relacionadas às pressões nestes astros, os pesquisadores ainda propõem uma forma de perfurar a superfície destes planetas em missões espaciais futuras, o que poderia confirmar especulações sobre vida subterrânea. O resultado das discussões e experimentos foi publicado no The Astrophysical Journal Letters na segunda-feira (21).

Para que os pesquisadores chegassem a uma conclusão, foi analisada a “espessura” de regiões superficiais destes planetas, sendo que foi revelado que água e vida podem existir mesmo em objetos rochosos. O estudo também sugere que altas pressões não serviriam de motivo para excluir completamente a chance de vida. “Tanto a Lua quanto Marte carecem de uma atmosfera que permitiria a existência de água líquida em suas superfícies, mas as regiões mais quentes e pressurizadas sob a superfície poderiam permitir a química da vida na água líquida”, disse Avi Loeb, cientista que participou do estudo.

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Cientistas acreditam que vida extraterrestre pode estar no subterrâneo de outros planetas, e não na superfície. Créditos: Dotted Yeti/Shutterstock

“Nós examinamos se as condições propícias à vida poderiam existir bem abaixo da superfície de objetos rochosos como a Lua ou Marte em algum ponto de suas histórias, e como os cientistas podem procurar por traços de vida subterrânea passada nesses objetos”, ressaltou Manasvi Lingam, principal autora do artigo.

A partir desta assertiva, Manasvi ainda defende que Marte, por exemplo, pode contar com lagos subterrâneos ainda não descobertos, mesmo sem possuir grande volume de água em sua superfície.

Outro ponto relevante para a afirmação dos pesquisadores, veio da análise sobre um limite na quantidade de material biológico que pode ser encontrada em ambientes subterrâneos profundos. “Descobrimos que o limite do material biológico pode ser uma pequena porcentagem da biosfera subterrânea da Terra e mil vezes menor do que a biomassa global do nosso planeta”, explicou Loeb.

Ainda sobre este ponto específico, ele acrescentou que o criófilos, que são organizamos que prosperam em ambientes muito frios, poderiam sobreviver e ainda se multiplicar em corpos rochosos aparentemente sem vida. “Os organismos extremófilos são capazes de crescer e se reproduzir em temperaturas abaixo de zero. Eles são encontrados em lugares que são permanentemente frios na Terra, como as regiões polares e o mar profundo, e também podem existir na Lua ou Marte”, destacou o cientista.

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Aposta dos pesquisadores é que Marte abrigue vida, mesmo que microbiana, em seu subterrâneo. Créditos: Jurik Peter/Shutterstock

De qualquer forma, Avi Loeb falou que mesmo que haja vida subterrânea nestes locais, não se trata de uma metrópole próspera de matéria orgânica, considerando o que já se conhece neste sentido. Loeb disse que a descoberta representaria apenas “uma pequena porcentagem da biosfera subterrânea da Terra”.

Perfuração no solo

A equipe do Center for Astrophysics de Harvard e do Florida Institute of Technology (FIT) apresentou, junto ao estudo, uma proposta de como todo o conteúdo pode ser comprovado em missões espaciais futuras. A solução seria fazer perfurações próximas do equador de Marte ou da Lua em busca de temperaturas mais altas. “Precisamos ser capazes de perfurar dezenas de quilômetros sob a superfície de Marte e, sem a exposição dessas camadas profundas da atividade geológica, não seremos capazes de explorá-las”, argumentou a autora Manasvi Lingam.

Apesar de todo otimismo com as descobertas e previsões, o grupo de pesquisadores admite que não se trata de uma missão fácil, mas sim, que exige critérios de pesquisa meticulosos e máquinas avançadas ainda não conhecidas pelo homem. “Existem muitos critérios envolvidos na determinação dos locais ideais para a caça de sinais de vida”, acrescentou Lingam. “Algumas que levamos em consideração para buscas de subsuperfície incluem perfurações perto do equador, onde a biosfera subterrânea está situada mais perto da superfície, e busca de pontos geológicos com temperaturas mais altas”, explicou.

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A sugestão dos estudiosos é que em próximas missões tripuladas ao espaço, os astronautas estejam equipados com máquinas que consigam perfurar o solo. Créditos: Gorodenkoff/Shutterstock

Já Loeb disse estar confiante com uma possível perfuração neste sentido já na próxima década, por meio de programas da Nasa, por exemplo. “A perfuração pode ser possível no contexto do programa Artemis para estabelecer uma base sustentável na Lua até 2024. Pode-se imaginar robôs e máquinas pesadas que perfurarão fundo a superfície lunar em busca de vida, assim como fazemos em busca de petróleo na Terra”, finalizou.

Fonte: Phys.org/Futurism