A presença de hematita na superfície da Lua intriga pesquisadores. Em um novo estudo publicado na revista Science Advances, nesta quarta-feira (2), cientistas apontam que o mineral é abundante em depósitos de gelo nas regiões polares do satélite e pode ser encontrado principalmente em partes do astro mais próximas à Terra.
O desafio, no entanto, é explicar como a hematita pode ocupar a superfície do satélite em meio a condições pouco favoráveis. Afinal, a substância corresponde a uma forma oxidada do ferro. Aqui na Terra, o processo de oxidação requer a presença de ar e água, dois elementos escassos no ambiente lunar.
Os pesquisadores ainda destacam que, sem atmosfera, a Lua é constantemente bombardeada por fluxos de hidrogênio originados de ventos solares. O elemento químico configura um agente redutor que ‘doa’ seus elétrons aos materiais com os quais interage. A oxidação, no entanto, ocorre justamente pelo processos de perda dos elétrons. Os ventos solares, portanto, deveriam ser impeditivos da formação da hematita no solo do astro, argumentam os cientistas.
Investigação
O estudo mapeou a localização dos materiais a partir de dados coletados pela sonda Chandrayaan-1, da Agência Espacial Indiana. A espaçonave conta com o espectrômetro Moon Mineralogy Mapper (M3). Projetado pela Nasa, o instrumento é capaz de realizar análises da radiação eletromagnética do solo lunar e fornecer dados detalhados sobre a composição mineral da superfície.
“Quando examinei os dados do M3 nas regiões polares, descobri que algumas características e padrões espectrais são diferentes daqueles que vemos nas latitudes mais baixas ou nas amostras da Missão Apollo. Após meses de investigação, descobri que estava vendo sinais de hematita”, afirmou o coautor do estudo Shuai Li, que é cientista planetário da Universidade do Havaí (EUA).
Ilustração da sonda Chandrayaan-1. Imagem: Reprodução
A pesquisa sugere que a formação de hematita está ligada a três fatores. O primeiro é o derretimento do gelo lunar e mistura da água resultante com poeiras do solo do satélite em decorrência de eventos geológicos. As outras duas hipóteses apontam possíveis interferências da Terra.
Durante períodos de Lua cheia, nosso planeta pode bloquear até 99% do vento solar que chega ao satélite, o que diminui a incidência de hidrogênio na Lua, dizem os pesquisadores. Neste mesmo período, a pequena fração de vento solar restante pode viabilizar o transporte de oxigênio da atmosfera terrestre até a superfície lunar.
“Assim, o oxigênio atmosférico da Terra pode ser o principal oxidante para a produção de hematita.”, pontua Shuai Li.
Mistério permanece
Contudo, ainda existem incógnitas na equação. Li ressalta que a hematita também está presente em regiões da Lua muito distantes da Terra, as quais o oxigênio originado da atmosfera da Terra não conseguiria atingir. Por outro lado, é possível que os depósitos de hematita na Lua ainda contenham isótopos de oxigênio acumulados durante bilhões de anos – em diferentes estágios de formação da Terra.
Para os pesquisadores, análises mais aprofundadas das hematitas lunares podem viabilizar novas oportunidades estudo sobre a evolução atmosférica do nosso planeta, bem como da história e características da Lua. “A Terra pode ter desempenhado um papel importante na evolução da superfície da Lua.”, destaca Li.
Via: Science Alert