O Facebook escuta nossas conversas para segmentar anúncios?

O Facebook não é exatamente uma rede social que se gaba por sua alta privacidade.
Equipe de Criação Olhar Digital17/05/2019 15h40

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Muitas teorias da conspiração que podem ser encontradas na internet dizem respeito ao Facebook. As mais famosas falam sobre a rede social escutar constantemente o que falamos para que anúncios sejam segmentados. Há alguns relatos que garantem que isso, de fato acontece, além de vários vídeos no Youtube de pessoas que dizem que estamos sendo vigiados a todo o momento.

O Facebook não é exatamente uma rede social que se gaba por sua alta privacidade. Muitos usuários desconfiam de sua segurança desde 2017, quando o escândalo Cambridge Analytica veio a público. O próprio Mark Zuckerberg já admitiu, durante a conferência de desenvolvedores do Facebook, que eles não tinham “a mais forte reputação de privacidade.”

A rede social nega que ouve conversas para segmentar anúncios. Zuckerberg chegou a dizer diante do Congresso americano que a empresa não se dedica à prática. Especialistas e analistas dizem que o Facebook não precisa de nossas conversas para direcionar anúncios de forma eficaz. No entanto, a teoria da conspiração persiste, com pessoas compartilhando suas experiências.

Como é o caso de Carl Mazur, um fotógrafo de Utah, que se assustou após ver um anúncio de lentes de câmera da marca Rokinon aparecendo em seu perfil. Isso porque 20 minutos antes, o quiroprata de Mazur mencionou a marca durante uma sessão.

 Ele sempre ouviu histórias sobre a rede social escutando conversas por meio dos microfones dos smartphone, mas nunca deu muita importância para o assunto. O anúncio do equipamento fotográfico fez com ele reconsiderasse. “Foi aí que eu comecei a acreditar”, disse Mazur, acrescentando que nunca havia pesquisado ou comprado lentes Ronikon antes. “Pensei em como isso era estranho.”

Mazur ainda disse que depende do Facebook e de outras redes sociais para promover seu trabalho. Depois que o anúncio da lente da câmera apareceu, ele começou a ver a rede social de Mark Zuckerberg mais como um negócio, do que um local para encontrar os amigos.

Algumas alternativas

Mesmo com todos os relatos, isso parece não atingir a reputação da rede social, que hoje conta mais de 2,38 bilhões de pessoas conectadas todos os meses. Analistas dizem que, pouco a pouco, os rumores de conspiração e espionagem podem mudar a maneira como usamos a plataforma. Se estivermos preocupados com o fato do Facebook estar ouvindo nossas conversas, podemos parar de compartilhar alguns de nossas dados pessoais, desta forma, ele não conseguirá segmentar anúncios com tanta precisão.

“Se mais usuários começarem a sentir que estão sendo vigiados por meio de áudio, eles mudarão seus comportamentos”, disse Jennifer Grygiel, professora assistente de comunicação da Universidade de Syracuse. “Portanto, mesmo que seja falso, isso pode afetar a maneira como eles usam aplicativos e seus smartphones e como esses usuários garantem sua própria privacidade.”

Os usuários, por exemplo, podem desligar seus telefones se estiverem em um evento, em uma conversa particular ou em uma sessão de terapia, sugeriu Grygiel. Eles também podem ser mais cautelosos e compartilhar menos informações ou desativar sua localização, o que privaria o Facebook de oportunidades de aprender mais sobre você. Eles também poderiam ativar bloqueadores de anúncios, o que afetaria a receita da plataforma.

O Facebook não é o único

No início deste mês, descobriu-se que a Amazon mantinha versões em texto de conversas que os usuários tinham com seus dispositivos Echo, mesmo depois que as gravações foram excluídas.

O público já está desconfortável com o modo como o Facebook e outros gigantes de tecnologia os acompanha pela internet. Aproximadamente 68% dos consumidores dizem que rastrear o que se faz na internet para segmentar anúncios é antiético, de acordo com uma pesquisa encomendada pela empresa de segurança cibernética RSA no início deste ano.

Ainda assim, o Facebook continua a alimentar preocupações entre alguns usuários de que a rede social poderia estar ouvindo-os como um Big Brother da vida real. “A imagem de privacidade do Facebook coloca esse véu de preocupação, que será difícil de retirar”, disse Tim Bajarin, presidente da empresa Creative Strategies. “Eles vão ter de fazer muito para provar que estão protegendo a privacidade das pessoas”.

O que o Facebook diz sobre isso

Parte do problema, dizem os especialistas, é que os consumidores não entendem completamente como seus dados estão sendo usados pela empresa para exibir anúncios. Cerca de 74% dos adultos dos EUA que usam o Facebook não sabiam que a rede social mantém uma lista de seus interesses e características para a segmentação de anúncios.

Um porta-voz da rede social disse que eles estão trabalhando para fornecer às pessoas informações mais precisas sobre o motivo pelo qual estão vendo um anúncio, além de lançar ferramentas que prometem transparência para os usuários. O Facebook possui uma ferramenta que pode ser utilizada para o usuário saber o motivo de estar vendo aquele anúncio. Mesmo assim, algumas informações estão incompletas.

O Facebook ainda divulgou recentemente que está trabalhando em diversas melhorias na rede social, incluindo aperfeiçoamento de seus recursos de segurança. Segundo pesquisa do Datafolha, no Brasil a rede social está perdendo usuários, sendo que a queda foi diretamente atribuída aos escândalos de privacidade em que a plataforma esteve envolvida. Será que eles vão conseguir diminuir a desconfiança dos usuários? Difícil saber.

VIA: Cnet