A Amazon não precisa ouvir suas gravações de voz para saber o que você disse. Ela pode lê-las – graças a Alexa. Ao ser acionada, a assistente pessoal da gigante de varejo eletrônico transcreve e armazena no sistema tudo o que escuta. 

Os usuários podem excluir as gravações de voz, mas a opção apenas cria uma falsa sensação de privacidade, porque a empresa continua armazenado os dados do texto do áudio transcrito, automaticamente, em seus servidores na nuvem. E não há a opção de excluí-los.

À reportagem publicada pelo Cnet nesta quinta-feira (9), a Amazon disse que apaga as transcrições de texto do “sistema principal” do Alexa, mas está trabalhando para removê-las de outras áreas onde os dados estejam registrados. Com esse posicionamento, a empresa não nega que as informações estejam de fato salvos em seus servidores.

“Quando um usuário exclui uma gravação de voz, também a removemos de nossos principais sistemas Alexa e de muitos subsistemas, o texto transcrito correspondente associado à sua conta, e temos trabalhos em andamento para eliminá-lo dos subsistemas restantes”, disse um porta-voz da Amazon ao Cnet.

As transcrições coletadas não são apenas de alto-falantes Echo, mas de qualquer sistema que funcione com a Alexa. Até mesmo os dados armazenados pelo Portal, o dispositivo de chamada de vídeo inteligente do Facebook, que também permite interação com a Alexa. De acordo com um porta voz da empresa de Mark Zuckerberg, a rede social – pelo menos – não tem acesso às interações.

Como se esperava, a justificativa da Amazon para a prática é aprimorar o produto para o usuário, mas a empresa esqueceu de perguntar aos seus clientes se eles querem melhorias em troca do armazenamento dos dados.

A empresa disse que registra os arquivos para fins de aprendizado de máquina, de modo a treinar a assistente pessoal, eliminar imperfeições e melhorar suas respostas. A Amazon garante que apaga os dados depois da conclusão do processo. O problema é que a empresa não esclareceu quanto tempo leva para realizar o trabalho.

A reputação do processamento de dados coletados pela Alexa não está em seus melhores tempos, já que essa não é a primeira vez que a Amazon precisa lidar com acusações de violação de privacidade do seu software de assistente pessoal.

Segundo reportagem da Bloomberg, graças às informações recolhidas, funcionários da empresa podem acessar não só as gravações feitas pela Alexa, mas também a localização exata dos usuários. A companhia não negou a afirmação do site, assegurando apenas que “o acesso a ferramentas internas é altamente controlado e só é concedido a um número limitado de funcionários”.

Porém, as dúvidas quanto às práticas de privacidade da empresa não a impedem de crescer no mercado de dispositivos inteligentes e aumentar seu controle sobre informações pessoais. Enquanto o Facebook continua dominando os holofotes em casos de uso indevido de dados dos usuários, a Amazon vendeu mais de 100 milhões de dispositivos Alexa nos Estados Unidos. Com essa dimensão, pode armazenar uma quantidade significativa de áudios transcritos contendo detalhes sobre os hábitos e comportamentos das pessoas. 

Os alto-falantes inteligentes Amazon Echo também são a escolha mais popular nos EUA. Eles dominam a divisão com cerca de 70% de participação no mercado, enquanto o Google Home tem por volta de 24% e o Apple HomePod 6%. Google e Apple disseram que não mantêm dados de transcrição dos áudios indefinidamente.

Via: Cnet