Software de reconhecimento de máscara põe em risco privacidade de usuários

Desenvolvedores defendem emprego da nova tecnologia que não revela a identidade da pessoa para observar simplesmente a adesão delas à obrigatoriedade do uso do acessório
Redação15/09/2020 18h29, atualizada em 15/09/2020 19h39

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A pandemia da Covid-19 tem forçado o desenvolvimento e aperfeiçoamento de uma série de tecnologias. Uma delas é o reconhecimento facial com o uso de máscaras, ou ainda o simples reconhecimento da obediência à obrigatoriedade do uso de máscara. É nesta última que investiram as empresas como a LeewayHertz, com sede em San Francisco, e a Tryolabs, de Montevidéu.

Os softwares desenvolvidos por ambas se destinam ao uso em ambientes privados e públicos e, segundo seus criadores, não teriam o potencial de infringir o direito à privacidade do cidadão. Cumpririam apenas a função de observar a adesão ao uso de máscara em nome do bem público e do interesse coletivo.

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O software da Tryolabs está preparado para apontar se o rosto humano está com ou sem máscara, no entanto, sem revelar a identidade da pessoa. Crédito: Tryolabs/Divulgação

Detecção da máscara, não da identidade

Em tese, a questão da privacidade estaria superada, uma vez que os programas realmente não identificam as pessoas. O algoritmo é treinado para cumprir duas funções: reconhecer um rosto humano (detecção facial sem vincular a uma pessoa específica), e identificar uma máscara neste rosto (reconhecimento de máscara).

“Se pudermos calcular o número [de pessoas que estão respeitando a obrigatoriedade de uso da máscara], pode-se fazer políticas e monitorar se é preciso ou não fazer outra campanha para forçar o uso da máscara”, diz Alan Descoins, diretor de Tecnologia da Tryolabs. Outra situação, segundo ele, será quando houver por parte da população um certo cansaço com a pandemia e se começar a abrir mão do acessório. Quando isso acontecer, destaca, “talvez seja necessário haver mais publicidade para alertar as pessoas.”

Os novos softwares podem ser usados em tempo real e integrados às câmeras de circuito fechado TV. Também seriam mais assertivos na sua finalidade de identificação de uso, já que as máscaras têm confundido os softwares tradicionais de reconhecimento facial. E este é um desafio do presente. No Brasil, por exemplo, em todas as Unidades da Federação o uso do acessório é obrigatório ou recomendado.

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Imagens de circuito fechado de TV com o emprego dos novos algoritmos ajudariam a policiar as pessoas no cumprindo das recomendações de uso da máscara. Crédito: Tryolabs/Divulgação

E como fica a privacidade?

Mas há também críticos à tecnologia de reconhecimento de máscaras. Para estes, o novo padrão pode estar sujeito a algumas das mesmas armadilhas do reconhecimento facial. Trata-se de uma referência ao fato de que muitos dos conjuntos de dados de treinamento usados nos sistemas de identificação facial são dominados por indivíduos de pele clara.

Hector Dominguez, coordenador de Dados Abertos da Cidade Inteligente de Portland, vê o reconhecimento de máscara como diferente do reconhecimento facial no que diz respeito aos riscos à privacidade. Mas não deixa de advertir sobre perigos desta vir a ser violada também pelo novo sistema. “Estamos no meio de uma crise. Precisamos começar a criar mais consciência sobre a privacidade”, diz.

No fundo, ele teme que os novos sistemas de reconhecimento de máscara capturem mais do que se propõem. “As máscaras não vão impedir o reconhecimento facial”, observa. Já James Lewis, diretor do Programa de Política de Tecnologia do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, é mais enfático: “Há uma vontade de relaxar as regras quando se trata de qualquer coisa relacionada à Covid”. O problema é que uma vez relaxado, dificilmente se volta ao estado anterior.

Fonte: National Geographic

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital