Relógio do Juízo Final agora marca 100 segundos para o fim do mundo

Nova escalada militar, mudanças climáticas e novas tecnologias de desinformação colocam a humanidade mais próxima da extinção do que nunca, segundo pesquisadores
Renato Santino23/01/2020 21h03, atualizada em 23/01/2020 21h15

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A humanidade está mais próxima do que nunca da destruição total do planeta. É o que concluíram os membros do Bulletin of the Atomic Scientists (Boletim de Cientistas Atômicos), que ajustaram o Relógio do Juízo Final para 100 segundos para a meia-noite, o que coloca os humanos 20 segundos metafóricos mais próximos da extinção.

O Relógio do Juízo Final foi criado em 1947 e é atualizado regularmente como uma forma de representação dos riscos enfrentados pela humanidade e o quão iminentes podem ser os impactos. Antigamente, ele representava principalmente a escalada da tecnologia nuclear bélica, mas de lá para cá ele também representa outros riscos, em especial as mudanças climáticas enfrentadas pelo planeta.

Ao longo dos últimos dois anos, o relógio teve seu horário definido em 2 minutos para a meia-noite (sendo a meia-noite a representação da extinção humana). No entanto, houve alguns fatores recentes que motivaram os cientistas a avançarem o relógio 20 segundos para frente. Isso inclui as tensões militares entre Estados Unidos e Irã, o fim da cooperação entre EUA e Rússia sobre desarmamento nuclear e a decisão da Coreia do Norte em retomar os testes nucleares. Além disso, a questão climática não foi ignorada, com incêndios generalizados na Amazônia e na Austrália citados como parte de uma resposta inadequada contra as mudanças do clima mundial.

Há um outro fator que contribui para a aproximação do juízo final que é a guerra de informação e desinformação vista em boa parte do planeta e o descrédito de cientistas e da mídia sob acusação de “fake news”. Para piorar, o comitê ainda nota a ascensão do “deepfake”, a tecnologia que usa inteligência artificial para criar montagens ultrarrealistas, o que permite, na prática, fazer com que qualquer pessoa famosa fale o que o autor quiser em frente à câmera.

Em 2018, que havia sido a última vez que o relógio teve seu horário modificado, a preocupação dos cientistas era direcionada principalmente à escalada nuclear em países como Coreia do Norte, Paquistão, Índia, Rússia e, claro, os Estados Unidos. Na ocasião, o relógio foi adiantado em 30 segundos e definido em 2 minutos para a meia-noite, o que já sinalizava um nível de preocupação alto. Afinal de contas, esse horário só havia sido atingido em 1953, no auge da Guerra Fria, quando EUA e União Soviética testavam seu armamento termonuclear.

Também vale lembrar, no entanto, que, por mais assustador que o Relógio do Juízo Final pareça, ele é só um artifício utilizado para demonstração da preocupação em relação aos rumos do planeta, por mais que seja embasado por pesquisa científica e geopolítica séria. A peculiaridade do relógio é que os cientistas podem, sim, em algum momento, retroceder os ponteiros, mantendo a meia-noite mais distante. Para isso, são necessárias mudanças positivas: em 1991, o relógio chegou a 17 minutos para o fim do mundo quando EUA e União Soviética assinaram o Start I (Tratado de Redução de Armamentos Estratégicos), marcando uma cooperação entre as duas potências que afastava consideravelmente o risco de extinção por uma guerra nuclear. Foi o mais longe que já estivemos do fim do mundo, na visão dos cientistas.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital