Um passinho de conga, aparentemente espontâneo, feito por duas chimpanzés, mantidas em cativeiro, pode dar mais informações sobre como os humanos aprenderam a dançar. É o que cientistas dizem em uma nova pesquisa.

Durante anos, visitantes do zoológico de Saint Louis, nos Estados Unidos, ocasionalmente viam e filmavam uma exibição de duas chimpanzés, muito próximas, chamadas Holly e Bahkahri. As duas andavam e balançavam em sincronia ao longo de seu habitat, cada uma carregando um cobertor debaixo de suas pernas, quase como se estivessem fazendo uma fila de conga.

Em um novo estudo publicado na quinta-feira (12) na Scientific Reports, pesquisadores europeus dizem que existem evidências o bastante para sugerir que a coreografia das chimpanzés não foi um acidente ou produto de treinamento humano. Eles argumentam também que a descoberta poderia ajudar a estabelecer uma nova teoria sobre como a dança evoluiu entre os humanos.

Os pesquisadores estudaram mais de uma dúzia de vídeos mostrando os passinhos de conga da dupla, gravados entre 2011 e 2015 e postados no YouTube. Criando um modelo de seus movimentos, eles concluíram que a “dança” era um ritual totalmente intencional e muito bem definido entre a dupla.

Segundo eles, as chimpanzés “exibiam um movimento de marcha que era individualmente regular e mutuamente sincronizado, demonstrando que queriam manter o ritmo. Sempre que um indivíduo acelerava ou desacelerava seu ritmo, seu parceiro correspondia”.

De acordo com os dados, é improvável que às duas tenham sido treinadas por seus tratadores para realizar sua performance. A prática de treinar chimpanzés para entretenimento havia sido eliminada pelo zoológico de St. Louis na década de 1980, e elas chegaram a 1998, com quatro meses. Os autores disseram que não é provável que elas tenham adotado esse comportamento somente por verem seres humanos fazendo isso, já que a coreografia é complicada.

Outros animais já foram observados movendo seus corpos ritmicamente de acordo com sons ou em resposta a outro membro de sua espécie, da mesma forma que os humanos. No entanto, esta parece ser a primeira vez que outros animais, além de nós, demonstram esse comportamento espontaneamente, sem nenhum estímulo externo como a música, segundo os autores.

Reprodução

Nesse caso, é provável que a dança tenha surgido como um comportamento de acolhimento e suporte para às duas chimpanzés. Embora tenham sido aceitas na família do zoológico, ambas foram separadas de suas mães e de um ambiente saudável no início de suas vidas, algo que pode afetar dramaticamente os seres humanos e primatas não humanos. Por estarem tão intimamente ligadas, o balanço sincronizado pode ter aliviado o estresse.

De fato, isso corrobora com o que o zoológico disse. A diretora de relações públicas do zoológico, Susan Gallagher, disse ao canal local KSDK, em 2017, que às duas chimpanzés estavam “dançando” desde a infância.

Entretanto, o fato de as chimpanzés conseguirem adotar esse comportamento, de acordo com os pesquisadores, é motivo suficiente para suspeitar que a dança entre os seres humanos foi um processo desenvolvido em várias etapas, que inicialmente pode nem ter envolvimento de música. Assim como ocorreu com Holly e Bahkahri, pois talvez tenha sido um comportamento praticado pela primeira vez por grupos de proto-humanos em situações estressantes.

Há muito mais trabalho a ser feito para desvendar como e porque os humanos aprenderam a dançar. Infelizmente, a chimpanzé Holly morreu em 2018, aos 19 anos, devido a um câncer avançado. Desde então, Bahkahri não tem mais uma parceira de dança.

Via: Gizmodo