Pesquisadores brasileiros da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Unicamp fizeram uma descoberta inédita na ciência: encontraram parasitas sanguíneos preservados nos fósseis de um titanossauro, espécie de dinossauro de pescoço comprido popularmente conhecido como “brontossauro”, que habitou o estado de São Paulo há 80 milhões de anos.
É a primeira vez que parasitas são encontrados dentro de um hospedeiro. Anteriormente, eles só eram conhecidos em insetos preservados em âmbar ou em coprólitos, fezes fossilizadas.
O achado começou em 2017 quando a (na época) pós-doutoranda Aline Ghilardi, da UFRN, notou que um dos ossos que estudava, descoberto em São Paulo, tinha caroços esponjosos. No ano seguinte, Tito Aureliano, mestrando na Unicamp, decidiu estudar os ossos com um microscópio e por uma tomografia feita na Facudade de Medicina da USP.
Com isso, o dinossauro foi diagnosticado como tendo osteomielite aguda, uma infecção nos ossos que causa muita dor e até hoje acomete humanos e animais. Então, foi decidido fazer uma biópsia do osso, para estudar o desenvolvimento da doença. Foi aí que a paleontóloga Fresia Ricardi-Branco, da Unicamp, encontrou os microfósseis dentro dos canais vasculares no osso do dinossauro.
Em análise posterior, a paleoparasitóloga Carolina Nascimento, da UFSCar, fez uma análise detalhada da amostra e conseguiu achar fósseis de mais de 70 microorganismos, identificados como um tipo de parasita sanguíneo. Entretanto, segundo Aline, não foi possível determinar se a infecção foi causada pelos parasitas, ou se eles se aproveitaram dela para colonizar o dinossauro.
O que se pode afirmar é que o dinossauro sofreu muito até morrer, “com a formação de caroços e feridas abertas, expelindo pus pelas pernas, braços e corpo. O aspecto geral (do animal) lembraria muito o de um ‘dino zumbi'”, diz Aureliano.
Parasitas sanguíneos (indicados pelas setas) encontrados em ossos de titanossauro. Foto: Reprodução / YouTube
Segundo Ghilardi, autora principal do estudo publicado na revista Cretaceous Research, a pesquisa foi inovadora pois “pela primeira vez uniu as disciplinas da histologia, patologia e parasitologia aplicadas aos fósseis, o que abrirá novas possibilidades para a paleontologia de agora em diante”.
“É também um exemplo de como a ciência de base pode acabar causando impacto na medicina moderna, contribuindo para a compreensão de doenças que até hoje acometem animais, incluindo a espécie humana”.