Nesta quinta-feira (2), a Claro – em uma ação quase “conjunta” com o lançamento de dois novos smartphones da Motorola compatíveis com a tecnologia 5G – anunciou a chegada de uma novidade à rede da operadora; o 5G DSS. Assim, a operadora promete ser primeira a ativar uma rede comercial 5G no país – antes mesmo da realização do leilão do espectro de frequências destinado à conexão de quinta geração.
Mas, calma. 5G no Brasil? Antes mesmo do desfecho da novela do leilão das faixas de frequência no país, que segundo o próprio presidente da Anatel só deve rolar no início de 2021? Como isso é possível? O Olhar Digital explica.
Dynamic Spectrum Sharing
Assim como o 4,5G (ou LTE Advanced) foi uma evolução natural do 4G e já é ofertado por quase todas as operadoras nacionais, a adoção da tecnologia DSS anunciada pela Claro também pode ser encarada como mais um degrau na evolução das redes de telecomunicações móveis rumo ao 5G. Apesar do nome da oferta, a diferença está na sigla “DSS”, de Dynamic Spectrum Sharing (ou, em tradução livre Compartilhamento Dinâmico de Espectro).
O que a tecnologia (DSS) faz é redistribuir as faixas de frequências já disponíveis e utilizadas na rede 4G. Assim, as operadoras não precisam necessariamente esperar o licenciamento do 5G no país para começar a dar os primeiros passos nesta direção. Nos Estados Unidos, por exemplo, AT&T e Verizon também utilizam o compartilhamento de espectro em suas redes 5G.
E é exatamente o que a Claro vai fazer para habilitar o lançamento por aqui enquanto espera o leilão para a adição de novas faixas de frequências para a utilização do 5G.
Com a compra da Nextel no final de 2019, a Claro é hoje a operadora com maiores fatias de frequência em praticamente todo o país, segundo dados da Anatel. Isso facilita a operação, uma vez que a empresa pode, no início, compartilhar o espectro sem causar uma queda de qualidade para os assinantes que usam a rede 4G.
Quando se fala em 5G, é preciso citar uma série de outras tecnologias envolvidas. O 5G, explica o vice-presidente da 5G Americas para América Latina e o Caribe, é um ecossistema completo que envolve antenas inteligentes, agregação de operadoras, DSS, entre outras tecnologias. “[O DSS] é uma tecnologia de transição que facilita oferta do 5G em situações onde ainda não há espectro suficiente para alocar somente o 5G. É como uma tecnologia de transição”, completa Otero em entrevista ao Olhar Digital.
Jose Otero, vice-presidente da 5G Americas para América Latina e Caribe / Foto: divulgação
5G “de verdade” no Brasil em 2020
O mais interessante é que o 5G através do compartilhamento dinâmico de espectro, o DSS, promete uma experiência muito superior ao usuário se comparado ao atual 4G disponível no país. A Claro diz que os clientes que tiverem aparelhos compatíveis com o 5G poderão experimentar, nos locais onde a tecnologia DSS for ativada, velocidade de navegação até 12 vezes superior às do 4G. “Os primeiros usuários deverão ter uma experiência incrível. Mas isso só o tempo vai dizer”, pondera Otero.
Ainda se sabe pouco sobre o lançamento da rede 5G da Claro. A sueca Ericsson será a responsável pelo desenvolvimento da tecnologia DSS. As outras empresas envolvidas no anúncio, Ericsson, Motorola e Qualcomm, dizem que só darão detalhes sobre a implantação da rede, cobertura inicial, e início das vendas do serviço, na próxima semana. O que foi anunciado nesta quinta é que a nova rede já será usada para iniciativas de telemedicina e educação à distância, em combate à crise causada pela pandemia de Covid-19.
“A chegada do 5G DSS permite oferecer uma primeira experiência com a quinta geração das redes móveis, utilizando tudo que temos investido e que já está disponível hoje”, diz José Félix, presidente da Claro.
Brasil é o terceiro país da América Latina a lançar rede 5G
Na América Latina, o Brasil será o terceiro país – atrás somente do Uruguai e de Porto Rico – na ativação de uma rede 5G comercial. “Muitos outros [países] irão utilizar a tecnologia DSS. Mas tudo vai depender da quantidade de espectro que cada operadora tem”, diz o executivo da 5G Americas.
A Claro, juntamente com as outras operadoras do país, aguarda o leilão das frequências específicas para o 5G – principalmente as faixas de 3,5 GHz e de 26 GHz (as ondas milimétricas). Ainda assim, o 5G DSS é uma forma de trazer uma evolução rápida e que vem sendo utilizada como alternativa pelas maiores operadoras do mundo, inclusive em economias desenvolvidas, como Estados Unidos e Europa, e onde o espectro de 3,5GHz e de ondas milimétricas já foi alocado.
“A vantagem [da Claro] é começar a vender 5G antes com ótima qualidade”, explica Jose Otero. Mas, o especialista diz também que essa qualidade vai depender da quantidade de usuários 5G na rede. “Quando crescer, vai ser preciso usar o espectro dedicado para atender novos assinantes. Se somente crescer usando DSS, usando as mesmas faixas do 4G, o momento de saturação pode chegar rapidamente. De qualquer forma, é uma boa oportunidade para iniciar uma transição mais cedo.”