O 5G brasileiro está um passo mais perto de sair do papel. Graças a um decreto publicado na quarta-feira (17), mais uma barreira que gerava preocupações em relação ao leilão das frequências da rede foi derrubada, permitindo o andamento mais tranquilo do processo.

A dúvida era sobre a renovação automática das atuais licenças de radiofrequência de que as operadoras necessitam para funcionar. Muitas delas expirariam a partir de novembro deste ano, e a questão da renovação estava incerta. As operadoras argumentavam que, se tivessem que devolver as licenças expiradas e gastar dinheiro para readquiri-las em um novo leilão, teriam de usar recursos que estão reservados para a implantação das redes 5G. Com o decreto, os caminhos para as redes móveis de quinta geração ficam mais abertos.

Como explica Eduardo Ricotta, presidente da Ericsson para o Cone Sul da América Latina, o decreto em si não afeta os planos para o leilão, que teriam prosseguimento mesmo com essa questão. O que o decreto realmente faz é proporcionar ao mercado mais segurança para realizar os investimentos pesados que serão necessários para a implementação da tecnologia no Brasil, criando um ambiente menos hostil para o setor de telecomunicações.

Isso coloca o mercado em uma situação favorável em que há poucas questões a serem resolvidas até o leilão do 5G. Como nota Ricotta, já não existem mais grandes preocupações burocráticas e regulatórias além do rito da Anatel, que inclui pontos como a publicação do edital do leilão e a aprovação de valores pelo Tribunal de Contas da União.

Além disso, também já não há mais grandes pontos técnicos a serem resolvidos. Uma das questões bastante debatidas ao longo dos últimos anos foi a interferência do 5G com outras tecnologias. A preocupação hoje reside apenas nos serviços de TV por antenas parabólicas, que usa uma frequência vizinha da proposta para o 5G, de 3,5 GHz. No entanto, os maiores centros urbanos já contam com sinal de TV digital, que utilizam outra frequência, e os 3,5 GHz devem ser dedicados às maiores cidades; no campo, onde a parabólica é mais presente, deve ser usada outra frequência mais baixa e de maior alcance, que não deve se aproximar do patamar de interferência.

Ricotta aponta que para uma interferência acontecer, é necessária uma coincidência pouco provável de fatores. A antena do 5G e a parabólica devem estar a uma distância entre 50 metros e 100 metros uma da outra, em alinhamento perfeito e com potência máxima na mesma direção. Novamente, para isso acontecer, seria necessário ter na mesma região o 5G de 3,5 GHz e a TV parabólica, o que não deve fazer parte do plano de implementação da tecnologia.

Uma questão que certamente não ajuda a implementação do 5G neste momento, no entanto, é a pandemia da Covid-19, que derrubou basicamente toda a economia global e as empresas do setor de telecomunicações não é diferente, o que poderia criar uma aversão a investimentos. No entanto, o setor prevê um cenário interessante para o momento da retomada, quando uma parte dos hábitos de consumo de internet adquiridos durante este momento de utilização mais intensa da rede deve permanecer como parte do cotidiano dos brasileiros. E justamente neste ponto o 5G se mostra como a tecnologia ideal para esse momento, já que foi pensada justamente para o uso intenso das redes móveis para jogos, streaming de vídeo, música e outras aplicações.

Agora, no entanto, resta saber quando o leilão acontecerá. O cronograma já passou por alguns adiamentos, mas a Anatel acredita que o arremate das frequências pode acontecer ainda durante 2020, o que poderia permitir o início da operação comercial no Brasil em 2021. No entanto, já se discute o uso de alternativas que podem acelerar o processo. Uma delas está o compartilhamento de espectro, que permitiria ativar as redes 5G já nas frequências existentes do 4G. Segundo Ricotta, essa opção aceleraria em um ano a implementação do 5G, ainda que não substitua o uso das frequências dedicadas quando elas forem disponibilizadas no leilão.